Envolvido por um tsunami de denúncias de corrupção que já destituiu dois ministros e em que, a cada semana, novos escândalos se sucedem em uma espiral sem fim, o governo da presidente Dilma Rousseff é o retrato da fragilidade. Na verdade, na maior parte dos casos, trata-se do esfacelamento do sistema de apoio político montado pelo ex-presidente Lula, junto aos partidos que formavam sua base parlamentar. Lula deixou para essas legendas a responsabilidade de administrar os ministérios em tenebrosas transações. É o resultado dessa irresponsabilidade que estamos assistindo todos os dias.
Mas não é disso que trataremos aqui. Vamos deixar que Ministério Público, Polícia Federal e o Congresso, por meio da instituição de CPIs, trabalhem, visando resgatar os princípios republicanos da administração e a preservação da res publica.
Falaremos, mais uma vez, da precária situação de nossa indústria frente aos desafios da globalização e de sua sobrevivência em um ambiente de acirrada competição. Depois de vivermos um ciclo de efervescência econômica planetária, na maior parte do governo Lula, a partir de outubro de 2008, a economia mundial viu-se em meio a uma de suas maiores crises.
Lépido e fagueiro, o então presidente, do alto de sua sapiência, desdenhou sua gravidade dizendo tratar-se de uma marolinha.
Garantiu que o país estaria a salvo de suas repercussões.
Vemos hoje, com mais clareza, o resultado da incúria e da irresponsabilidade de não se fazer as necessárias reformas do Estado, vitais para nosso desenvolvimento sustentado, dentre elas a política, a financeira, a tributária, a previdenciária e a trabalhista. Se elas tivessem sido implantadas, agora, que a crise se agudiza com ameaça de uma recessão profunda, envolvendo os países mais desenvolvidos, responsáveis pelo giro da economia mundial, estaríamos em melhores condições de enfrentá-la e aproveitaríamos as oportunidades que crises, independentemente de seu porte, sempre abrem, para os que se preparam para aproveita-as. O que, infelizmente, não é o nosso caso.
Acossado pelo recrudescimento e pela gravidade da crise, o governo Dilma resolveu fazer algo positivo, buscando ocupar espaço na mídia com alguma coisa positiva, que aponte para além do noticiário policial.
Assim apresentou com pompa e circunstância o Programa Brasil Maior, basicamente um programa de desoneração para alguns ramos da indústria, notadamente a automobilística e para alguns setores, principalmente o têxtil e o de confecções, além de calçados e artefatos, móveis e aqueles ligados à tecnologia da informação.
Fosse um programa relacionado com um projeto de desenvolvimento de longo prazo, tendo como um de seus eixos centrais o fortalecimento da indústria nacional, estabeleceria como meta a superação dos gargalos de nossa precária infraestrutura física e humana. Não deixaria de contemplar a constituição de instrumentos capazes de promover a inovação tecnológica, aumentar a produtividade, garantir linhas sustentáveis de financiamento de longo prazo, uma política nacional de formação de mão de obra, envolvendo escolas técnicas e universidades.
Apresentado como foi, resta a questão: quem pagará o custo da desoneração trabalhista? Será o contribuinte. Mais uma vez.
Em vez de um projeto consistente, o que temos é mais um puxadinho, como tantos que só têm efeito midiático. Nada mais.
Roberto Freire é deputado federal e presidente nacional do PPS
FONTE: BRASIL ECONÔMICO
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