No Congresso, Mantega reafirma política de reduzir gastos para reduzir juros; o governo todo concorda?
Os setores da economia brasileira mais sensíveis ao aumento das taxas de juros e/ou ao câmbio entraram em ritmo devagar quase parando desde meados do ano.
Ontem, no Congresso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o crescimento no segundo trimestre deve ter sido de 0,8% do PIB (foi de 1,3% no primeiro). Foi uma revisão do crescimento, para baixo.
O ritmo deste terceiro trimestre seria tão fraco ou menor. Haveria um repique no final do ano, com a economia se acelerando para 1%. Isso dá quase 4% de crescimento no ano; 4% parece ser o número mágico da presidente Dilma Rousseff. É uma "meta" de crescimento repetida por vários ministros, em público ou em conversas reservadas.
O governo deve fazer esforço para atingir a "meta", prejudicando as perspectivas de crescimento equilibrado num futuro próximo? Crescimento mais equilibrado no futuro mesmo que próximo significa, pelo menos, reduzir os gastos do governo, contendo assim um pouco mais a inflação e, desse modo, abrindo espaço para uma queda maior dos juros. Sim, essa conversa se tornou uma ladainha. No entanto, trata-se do nosso problema essencial de curto prazo.
Mais uma vez, Mantega disse em público e enfaticamente que "mudou o mix de política macroeconômica". Isto é, o objetivo do governo é recorrer mais à política fiscal (gastos), e não à monetária (juros), a fim de desaquecer a economia e controlar a inflação.
"Não se pode baixar os juros de maneira voluntarista; é preciso criar as condições para baixar a Selic, é prioritário"; "a política monetária isolada não resolve. Tem de ser combinada com a política fiscal", disse Mantega aos parlamentares. Mas essa é, enfim, a posição oficial do governo? De todo o governo?
Ainda é possível ouvir de assessores próximos de Dilma Rousseff, mas não economistas, que o governo ainda vai refletir sobre os efeitos da crise mundial no Brasil, sobre a inflação e sobre "demandas da sociedade" antes de decidir o tamanho da contenção fiscal de 2012.
A política monetária (aperto de crédito e alta de juros) vem fazendo seu papel -e seus efeitos mais fortes ainda virão, no fim do ano. Mas não atinge igualmente todos os setores da economia, ressalte-se.
A indústria claudicava desde o início do segundo trimestre. No meio do ano, estagnou. Ontem, a Confederação Nacional da Indústria informou que o setor ficou com estoques além do planejado em julho. Isso mesmo depois de oito meses de queda da utilização da capacidade produtiva das fábricas.
Baseados em pesquisa do Banco Central sobre condições de crédito na economia brasileira, os economistas da Febraban afirmavam nesta semana que, "com relação à oferta de crédito, as condições observadas não parecem muito favoráveis", em especial para pequenas e médias empresas e para o crédito para consumo da pessoa física.
Mas o consumo depende também de transferências de renda do governo, de previdência e de programas sociais, que vão crescer bem até o ano que vem. Isso pressiona principalmente a inflação de serviços. A alta de outros gastos e a tentativa de atingir a "meta de 4%" vão reaquecer a economia em momento inconveniente. E impedir a queda da taxa de juros, da Selic.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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