Marcos de Moura e Souza e Vandson Lima
Belo Horizonte e São Paulo - A política econômica do governo federal divide aecistas e serristas. O presidente do PSDB de Minas, o deputado federal Marcus Pestana, disse ontem que o partido vê risco iminente de recrudescimento da inflação. "Defendemos juros mais baixos, mas tem jeito de se fazer isso e não com a demonstração explícita de interferência do BC", disse.
Depois de o ex-candidato à Presidência José Serra já ter exposto seu apoio à mudança na política de juros no governo Dilma Rousseff, ontem foi a vez de o ex-governador Alberto Goldman, aliado de Serra, engrossar o coro. No Twitter, Goldman disse que o principal motivo por que o PSDB não poderia apoiar uma eventual candidatura do ex-presidente do Banco Central e atual Autoridade Olímpica Henrique Meirelles à Prefeitura de São Paulo é a "ortodoxia" de sua política monetária no governo Luiz Inácio Lula da Silva. "Ele, durante oito anos, representou uma política econômica ortodoxa que combatemos sistematicamente", afirmou o tucano.
Às vésperas de nova reunião do Copom, em que se espera nova redução dos juros, o presidente do PSDB de Minas coincide com a avaliação já explicitada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao Valor de que a mudança na política de juros ponha em risco a estabilidade da economia alcançada pelo Plano Real.
Ele diz que na visão de muitos economistas e do PSDB, o governo petista falha ao não evitar o que consideram ser um processo de desindustrialização no Brasil, ao não lidar bem com a concorrência chinesa, ao abandonar fundamentos econômicos que, segundo o deputado, tiveram êxito sob FHC e Lula.
A forma como o governo Dilma elevou o IOF nas operações com derivativos aponta uma mudança arriscada para a imagem de "credibilidade que o país construiu" nos mercados internacionais. "Esse tipo de mudança nas regras do jogo", disse o deputado, faz com quem muitos agentes de mercado comecem a se perguntar "Será que o Brasil está voltando a ser o velho Brasil?"
O partido organiza palco para condensar as críticas à gestão econômica de Dilma. Será um seminário no Rio, em 7 de novembro, que reunirá, segundo Pestana, a inteligência tucana - muitos integrantes da equipe econômica de FHC - como Armínio Fraga, Gustavo Franco e Edmar Bacha.
Para Pestana a disposição de Aécio em concorrer, seja contra Dilma ou Lula, revelada em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo" significa que o PSDB não pretende mais correr o risco de atrasar o lançamento de seu candidato presidencial, a exemplo do que ocorreu em 2010.
"Há um consenso no PSDB hoje que retardamos muito o lançamento da candidatura em 2010", disse Pestana em Belo Horizonte. O então candidato tucano José Serra formalizou sua candidatura em abril de 2010 - seis meses antes do primeiro turno das eleições.
"O que o Aécio está dizendo é que é mais efetivo trabalhar 2014 no segundo trimestre de 2013", disse o deputado.
A mensagem que Aécio tem enviado ao partido, segundo Pestana, é "confiem no meu taco, confiem no meu timing".
Embora o próprio Aécio diga que o partido tem muitos nomes com potencial para concorrer nas eleições presidenciais, entre eles o próprio Serra e os governadores Geraldo Alckmin (SP), Marconi Perillo (GO) e Beto Richa (PR), Pestana diz que na verdade só há um nome na cabeça dos tucanos.
"Hoje no subconsciente coletivo do PSDB, a esmagadora maioria dos tucanos olha o futuro e vê Aécio", disse Pestana.
PPS pode abrir porta para Serra
Em reação ao isolamento de Serra no PSDB, o presidente do PPS, o deputado federal Roberto Freire (SP) ofereceu legenda ao ex-governador paulista.
Em entrevista ao portal "IG", Freire afirmou que, dada a propensão do PSDB em optar, desde já, pela candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República em 2014, Serra e seu grupo seriam "empurrados para fora da legenda" e poderiam encontrar espaço em seu partido. "Se o PSDB continuar tratando-o [Serra] tão mal, nada impede que ele também venha para o PPS. Estaremos de braços abertos", observou o deputado.
A ex-senadora Marina Silva, que deixou o PV, também é considerada bem-vinda pelo PPS. Aliados seus filiaram-se à sigla para concorrer em 2012. "Conversamos no sentido de abrir o PPS para que os marineiros possam se candidatar pela legenda, onde quiserem, no Brasil inteiro. Depois, tanto eles como nós decidiremos o que fazer. Podemos inclusive ficar definitivamente juntos".
As dificuldades encontradas por Marina e Serra para alocar seus grupos políticos fazem Freire até vislumbrar tais lideranças unidas, sob o guarda-chuva do PPS. "Isso poderia dar até numa via alternativa ao que está aí colocado [para 2014]: Dilma versus Aécio. Quem sabe uma via alternativa, de esquerda e com respeito ao meio ambiente?", avaliou.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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