Parentes protestam contra o uso da imagem de Prestes e Maurício Grabois
Evandro Éboli e Fabio Brisolla
BRASÍLIA e RIO. A propaganda partidária do PCdoB na televisão, exibida na última quinta-feira, resultou em protestos indignados dos herdeiros de figuras históricas do comunismo no Brasil. No programa, com dez minutos de duração, o partido contestou as denúncias de corrupção envolvendo o ministro Orlando Silva e defendeu a trajetória da legenda, citando alguns comunistas ilustres.
Anita Leocádia Prestes, filha de Luís Carlos Prestes e Olga Benário, chegou a divulgar uma carta criticando o PCdoB pelo uso das imagens de seus pais na propaganda, conforme noticiou o colunista Ancelmo Gois. Outra a entrar na discussão foi Victória Grabois, filha de Maurício Grabois, ex-integrante da cúpula do partido nos tempos da Guerrilha do Araguaia, no início da década de 70. Ele morreu na luta armada na Região Amazônica, mas, oficialmente, foi considerado um desaparecido. Ontem, a representante da família Grabois lamentou que o nome de seu pai fosse lembrado justamente num programa em que o PCdoB se defende de denúncias de corrupção.
- Não posso admitir que usem a imagem do meu pai, que deu a vida a esse partido por suas convicções políticas e ideológicas - disse Victória, que vem acompanhando o noticiário a respeito do PCdoB. - Os fatos que hoje atingem o partido são lamentáveis e não podem estar vinculados a esses valorosos dirigentes. Se meu pai estivesse vivo, ficaria envergonhado com o que virou o PCdoB.
Filha de Prestes classifica como deplorável a postura do partido
Na mensagem endereçada ao Comitê Central do partido, Anita externou sua "estranheza" e "indignação com a utilização indébita" das imagens de Prestes e Olga Benário. "Não posso aceitar que se pretenda comprometer a trajetória revolucionária dos meus pais com a política atual do PCdoB, que, certamente, seria energicamente por eles repudiada". Anita ressaltou que, ainda em vida, seu pai já discordava da conduta dos dirigentes do partido: "Cabe lembrar que, após a anistia de 1979 e o regresso de Luís Carlos Prestes ao Brasil, durante os últimos dez anos de sua vida, ele denunciou repetidamente o oportunismo tanto do PCdoB quanto do PCB, caracterizando a política adotada por esses partidos como reformista e de traição da classe operária."
A herdeira de Prestes encerrou sua declaração afirmando que, por respeito, o "PCdoB deveria deixar de utilizar-se do inegável prestígio desses dois revolucionários comunistas junto a amplos setores do nosso povo, numa tentativa deplorável de impedir o desgaste, junto à opinião pública, de dirigentes desse partido acusados de possível envolvimento em atos de corrupção".
Diante das críticas, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), líder do partido no Senado, disse apenas que os herdeiros têm direito a opinar. E argumentou que os representantes atuais do PCdoB honram os antigos líderes comunistas.
-- Infelizmente, eles não estão mais aqui conosco. Se estivessem, certamente estariam do nosso lado - disse Arruda.
FONTE: O GLOBO
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