Bem ou mal, alguns números econômicos chutados na campanha começam a virar realidade
Em maio de 2010, a candidata Dilma Rousseff mandou um "bilhetinho aos brasileiros" interessados em política econômica. Em Nova York, para encontros com representantes do dinheiro, de Wall Street, vazou o que seriam alguns princípios que "tranquilizariam" os "mercados".
O que dizia a candidata?
1) Que tentaria reduzir a dívida pública para uns 30% ao final de seu mandato;
2) Que, para isso, manteria o programa de superavit primários. Melhor ainda, tentaria levar a poupança do governo (antes do pagamento de juros) para 3,3% do PIB;
3) Que gostaria de baixar a taxa real de juros básica para "perto de 3%, mas sem fazer mágica"; o Banco Central continuaria autônomo;
4) Não aumentaria mais os repasses do governo para o BNDES;
5) Reforma tributária seria uma de suas prioridades (coisa que reafirmou quando empossada);
Tenha sido por acidentes do destino ou desejo da presidente, meio na marra ou não, Dilma está no caminho de cumprir tais "promessas". No entanto, a política econômica dilmiana é muito diferente daquela do primeiro governo Lula.
Alguém pode dizer que o Banco Central "não é mais autônomo". Mas mesmo entre os povos dos mercados do Brasil se dissemina a ideia de que o BC, sob nova direção, pensa mesmo de modo diferente das diretorias anteriores. Isto é, "pensa mal", segundo a opinião mais comum, mas não se sujeita aos desejos da presidente.
De resto, note-se que o cumprimento das "promessas" de Dilma não significa que o Brasil entrou no caminho do crescimento duradouro.
No mais, o que aconteceu com as promessas do "bilhetinho aos brasileiros"?
O superavit primário voltou à casa dos 3,1%, 3,2%, depois do relaxamento do segundo governo Lula.
É divertido lembrar, porém, que o governo não estava muito inclinado a poupar mais. Mas a inflação crescente e a crise feia no mundo (além de receitas de impostos excepcionais) levaram Dilma e seus economistas ao caminho da prudência.
A taxa real de juros no mercado está em torno de 4%. Bancões brasileiros preveem que a Selic caia a 9% no ano que vem. Pode ser então que a taxa real fique abaixo de 4%.
Convém lembrar outro porém: a taxa real de juros está caindo, mas com a ajuda de uma inflação mais alta. No entanto, é preciso dizer que o mercado não está fazendo guerra aberta, na prática, contra essa derrubada dos juros, que o próprio mercado considera forçada.
Sim, difícil imaginar que a dívida pública fique muito abaixo de 35% do PIB mesmo ao final do governo Dilma, em 2014. Mas a redução da dívida terá sido relevante.
Enfim, não houve mais aumento de fundos para o BNDES. Pode-se dizer que, depois de duas centenas de bilhões de reais de dinheiro extra, financiado com dívida cara, seria uma desfaçatez inflar ainda mais o bancão estatal de desenvolvimento. Mas não houve mais dinheiro.
Reforma tributária não sairá. Mas mudanças progressivas no ICMS virão. E mais uma ou outra isenção tributária, na folha de salários, talvez.
Desafetos do governo talvez digam que é possível contar uma grande mentira com verdades parciais. É mesmo. Mas a crítica banal ao governo padece do mesmo problema.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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