terça-feira, 15 de novembro de 2011

Fifa ignora Procon e faz venda casada

A Lei da Copa nem foi aprovada, e a federação já negocia pacotes: ingressos, hotel, viagem. O valor pode chegar a R$ 4 milhões.

Fifa vende pacotes contestados

Em análise pelo Congresso e condenado por orgãos do consumidor, comércio casado de bilhetes está anunciado no site da entidade

Josie Jeronimo

A Federação Internacional de Futebol (Fifa) não esperou nem mesmo a Câmara dos Deputados votar a Lei Geral da Copa para iniciar as vendas casadas de ingressos, hospedagem e translados para o evento de 2014. É a lei em tramitação no Congresso que determinará a forma de comercialização dos bilhetes da Copa do Mundo e, apesar de o texto do Executivo tratar da venda de pacotes, a modalidade já foi condenada por órgãos de defesa do consumidor do Brasil e caberá ao Legislativo permiti-la ou não. Por meio da empresa Match Hospitality, pacotes que variam de R$ 1 mil a R$ 4 milhões, segundo a cotação de ontem, são oferecidos no portal da Fifa desde o dia 3 deste mês.

O presidente da Comissão Especial da Copa do Mundo, deputado Renan Filho (PMDB-AL), afirmou que, se a Câmara rejeitar a venda casada na votação da lei geral, a prática da Fifa estará irregular. No entanto, a tendência da Casa é acatar a liberação da venda dos pacotes. "Vai ferir o Congresso se a lei vetar a conduta que eles estão tendo. Mas a lei geral não deve vetar completamente a venda casada", diz Renan.

Trinta e três agentes de vendas estão espalhados por 80 países e o escritório referência de São Paulo já atende a pedidos por telefone, mas por enquanto a prioridade de compra é para pessoas jurídicas. O mapa da distribuição dos agentes de vendas mostra que a Fifa concentra na Europa sua expectativa de comercialização dos pacotes no Brasil. O planejamento também privilegia nossos vizinhos da América Latina. As vendas casadas são distribuídas por cinco modalidades de pacotes.

O mais completo, e primeiro a ser vendido, dá direito a ingressos nos jogos que acontecerão em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, abertura com a Seleção Brasileira, semifinais e a final. A cifra milionária de R$ 4 milhões pela venda casada é para um grupo de 26 pessoas. A cesta oferecida pela empresa credenciada pela Fifa é composta por bilhetes, tendas e camarotes privativos nos estádios, alimentação durante os jogos, estacionamento preferencial e atividades de "entretenimento". Como os pacotes "VIPs" oferecem visão privilegiada dos jogos, os melhores ingressos já ficarão reservados para a venda casada antes de chegarem ao público brasileiro.

Estrangeiros

O presidente da Comissão Especial da Copa afirma que a maior parte dos pacotes é destinada a torcedores de outros países e que o público brasileiro não será afetado. Mas na lista das vendas casadas da Fifa há opções direcionadas à Seleção Brasileira que obrigam o torcedor a adquirir pacote de quatro jogos — nas fases classificatórias, oitavas ou quartas de final — que varia de R$ 1,7 mil a R$ 21,3 mil para assistir a somente um jogo do Brasil.

Os roteiros oferecidos mostram que a entidade concentrará a promoção internacional dos jogos no Sudeste. Jogos fora do eixo Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte ficaram de fora da primeira fase de venda dos pacotes.

A capital fluminense, por sua vez, teve tratamento diferenciado para conciliar o turismo regional e os jogos. O preço da venda casada para as disputas em território fluminense é de R$ 71 mil. O Correio entrou em contato com a Fifa para questionar o número de ingressos reservados para venda casada, mas não obteve resposta.

Críticas à remoção de moradores

A Anistia Internacional condenou ontem a remoção de famílias nos preparativos para a Olimpíada de 2016. O texto, enviado ao Comitê Olímpico Internacional (COI), aponta que moradores de dezenas de bairros de baixa renda perderam ou estão sob risco de serem desalojados de suas casas, o que "fere os valores que as Olimpíadas representam e os compromissos internacionais do Brasil com os direitos humanos". A Anistia diz ainda que as famílias atingidas não vêm sendo indenizadas.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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