"Clarín", "La Nación", Papel Prensa, Cablevisión, os diretores de grandes meios de comunicação ou de diários e canais pequenos. Todos estão ou podem estar na mira do Governo, que, para alcançar seu objetivo de calar as críticas, não está disposto a respeitar nem sequer sentenças judiciais.
Há três semanas, a Afip (Receita Federal argentina) não teve escrúpulo em ocultar informação de um juiz. Para obter uma interdição de bens contra o "La Nación", omitiu um detalhe importante: em 2009, a Justiça determinou que o órgão deveria se abster de cobrar uma suposta dívida de mais de 20 empresas jornalísticas, até que o problema fosse resolvido. Essa foi a vez do "La Nación", que ontem descobriu, por acaso, a decisão judicial e a artimanha da Afip.
Na terça-feira, foi a vez da Cablevisión: embora a fusão da empresa com a Multicanal tivesse sido aprovada pelo governo de Néstor Kirchner, em 2007, o juiz federal de Mendoza Walter Bento tentou apagar a operação.
Para alcançar o objetivo de desarticular o Grupo Clarín, o juiz e o denunciante, o grupo Vila-Manzano, decidiram ser úteis à ofensiva dirigida pelo governo. Por sua vez, hoje (ontem) o Governo dirige outro golpe contra a imprensa; quando o Senado deve transformar em lei uma norma que permite ao governo controlar a produção e a distribuição de papel para jornais.
O Governo está liderando um embate contra grandes meios de comunicação para favorecer, diz, os pequenos. Porém, que segurança tem os menores de que não serão o alvo quando fizerem a mínima crítica?
Jornalistas estrangeiros confessam estar alarmados porque a Argentina está entrando num regime de censura parecido com o da Venezuela, porém na mão de uma presidente bem mais discreta que Hugo Chávez. Logo que assumiu, Cristina Kirchner deu a ordem de avançar. E todos correram para satisfazê-la.
Nem governadores, nem sindicalistas, nem meios de comunicação têm margem para a dissidência. Está claro que o governo decidiu aproveitar seu momento de maior poder para estreitar o espaço de liberdade de expressão. Para o oficialismo, as poucas críticas que ainda se escutam são danos colaterais, que logo devem desaparecer.
Adrián Ventura é colunista do "La Nación"
FONTE: O GLOBO
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