sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um governo que não começou :: Roberto Freire

De um governo continuísta, como o de Dilma Rousseff, esperava-se um alto grau de resolutividade, justamente pelo conhecimento e domínio da máquina do Estado, e da gama de projetos compartilhados e levados a público, desde o período Lula. No entanto, o que assistimos é um governo fraco, sustentado por uma base de partidos que não tem um projeto comum de Nação, mas tão somente o de se apropriar do Estado em benefício próprio. Um governo atolado em suas próprias contradições e em reiteradas denúncias de corrupção envolvendo seus ministros e ministérios, paralisado por uma pródiga incapacidade gerencial, pois o grande número de seus projetos não são apenas malfeitos, trazem embutido neles a falta de uma concepção estratégica de desenvolvimento de longo prazo, aliado a uma espetacular falta de prioridades.

O resultado concreto dessa falta de governo é o persistente declínio da qualidade de nossas políticas públicas, principalmente as que dizem respeito diretamente à melhoria da s condições da qualidade de vida d e nossos cidadãos, como educação, saúde, saneamento e segurança pública. O silêncio pusilânime da ampla maioria dos movimentos sociais diante de tal estado de coisas é fruto de um sistema de cooptação que tem manietado e sugado as forças do que há de organizado na sociedade, por meio de uma simbiose de interesses fisiológicos que f eriu de morte tais movimentos. A mesma estrutura intrusiva vê-se no Parlamento, onde o toma lá dá cá é a forma que tem mantido submisso e, na maioria das vezes, omisso o Legislativo. A ampla aliança de interesses coordenados pelo Estado patrimonialista e clientelista atingiu o paroxismo na tão decantada, em tempos idos, “maneira petista de governar”, tornando o Estado condomínio de tais interesses, em um sinistro e nebuloso esquema montado para o domínio da sociedade civil, de um lado, e o enriquecimento ilícito, às custas do erário, de uma minoria bem localizada nos escaninhos do Estado, seja em ministérios, agencias, estatais ou fundos de pensão.

Enquanto isso, a crise econômica mostra que definitivamente não é uma “marolinha” e que perdemos a chance de incrementar um conjunto de reformas que o país necessita, para diminuir o “custo Brasil” tornando-nos mais competitivo, no mundo globalizado. Estamos perdendo uma oportunidade histórica de transformar nossa indústria em um setor sustentável, fortalecendo os investimentos que apontem no sentido da inovação e modernização tecnológica de um lado, e eficiência energética de outro. Aproveitando toda capacidade produtiva que nossos biomas favorecem, implementando um amplo e profundo projeto de pesquisa em torno das potencialidades de nossa flora e de nosso solo. Estamos diante de um governo que não começou! Sem régua e sem compasso, cuidando do varejo da micropolítica com seus pares e aliados, de costas para o futuro, enterrando-se cada vez mais na mediocridade de um presente, que é a cristalização de um passado que não passa!

Se 2011 foi um ano perdido para o Brasil, os augúrios para 2012 não são diferentes, com um governo corrupto, inepto e despreparado para enfrentar a nova situação mundial só nos resta conclamar a sociedade para se organizar e resistir a tentação governista de passar a conta da crise para os trabalhadores e aposentados. 

Roberto Freire, deputado federal e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

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