Um bom jeito de conhecer um país é olhar para a forma como morrem suas crianças.
Os dados do registro civil de 2010, recém-divulgados pelo IBGE, revelam bastante sobre o Brasil ao destrinchar as componentes temporais da mortalidade infantil, isto é, a proporção de óbitos que ocorre logo após o nascimento (entre zero e seis), no primeiro mês (de 7 a 27 dias) e no primeiro ano (de 28 a 364 dias).
O Brasil fez importantes progressos nessa área. A taxa nacional de mortes de bebês despencou de 69 por mil em 1980 para 22 por mil em 2010: uma queda de 68% em 30 anos.
Essa, contudo, foi a parte fácil. Quando se parte de índices altos, é possível obter melhoras significativas com iniciativas simples e que atinjam grandes contingentes, como oferecer água tratada e vacinas e fazer campanhas pelo aleitamento materno exclusivo. Essas medidas são eficazes para evitar doenças infecciosas, em especial diarreias, que causam baixas principalmente entre bebês com mais de um mês. Esses óbitos tardios ainda representam 32% das mortes no país.
À medida, porém, que a situação evolui, fica mais difícil avançar com rapidez. Para fazê-lo, seria necessário reduzir as mortes precoces, que são geralmente provocadas por problemas no parto e anomalias congênitas. Evitá-las depende de ações individualizadas, que não raro exigem emprego de especialistas em unidades de terapia intensiva.
Em países desenvolvidos, 90% dos óbitos infantis ocorrem entre o nascimento e o sexto dia. No Brasil, a proporção é de apenas 52%.
O que chama a atenção nas estatísticas é que, mesmo nos Estados que mais reduziram a mortalidade infantil, como São Paulo, os óbitos tardios não dão sinais de arrefecer, permanecendo no patamar dos 30% desde o início da década. Isso significa que até nas unidades mais ricas há significativos bolsões de pobreza aos quais o Estado não chega.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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