Dará com os burros n"água quem procurar agora uma justificativa, um conjunto de critérios, uma filosofia para nela morar sobre a reforma ministerial que se avizinha no governo Dilma Rousseff. Não é o que se pretende fazer aqui, pois os interlocutores mais frequentes da presidente informam que ela não está dando pistas do que pretende fazer, qual governo procura desenhar para depois definir com quem levá-lo a termo e fazer os convites.
O que transparece é que novas trocas de ministros ocorrerão, além das que ela foi obrigada a fazer ao longo do primeiro ano de mandato, por circunstâncias adversas, teoricamente para dar eficiência à administração. Fala-se de eficiência, teoricamente, porque essa seria uma boa razão para mudanças em qualquer governo, mas ela mesma, nem a seus amigos, disse que setores considera deficientes no seu governo ou se é mesmo a excelência na gestão que vai procurar.
De qualquer forma, ao se perscrutar aqui e ali, chega-se a algumas questões, poucas, que parecem definidas. A primeira é que as mudanças ocorrerão a partir dos primeiros dez dias de janeiro, não antes disso. Tudo começará depois que Dilma voltar das férias que deverá passar em uma das casas de veraneio do governo, administradas pelas forças armadas, em praias da Bahia, do Rio ou de São Paulo.
Outra informação que se colhe antecipadamente é que a expectativa do PMDB de se sair melhor da reforma do que se encontra hoje no governo não tem respaldo na realidade. A presidente Dilma Rousseff aprecia a argumentação de que o PMDB já tem o cargo de vice-presidente da República, não precisa muito mais que isso. E ainda domina dois ministérios que ela considera fortes - os de Minas e Energia e Agricultura - e conta com dezenas de outros postos em ministérios e estatais espalhados.
Até as paredes sabem, mais ainda a presidente, que o PMDB é um inconformado por ter perdido os ministérios das Comunicações e da Saúde. Os dois foram deslocados para a cota do PT e não há hipótese de voltarem aos donos originais, quem os dominava no governo Lula.
O PT, porém, vai se sair muito bem dessa reforma, a julgar pelas conversas preliminares entre escalões do partido e do governo em torno do assunto. Não só pelo que vai ganhar a mais, bem como pelo que não vai perder. Considera-se, por exemplo, peça de ficção o que se tem dito sobre fusões e eliminações de secretarias hoje loteadas no petismo e títulos de ministro com os quais foram contempladas algumas minorias da sociedade.
O PT considera a Secretaria de Políticas para as Mulheres e a Secretaria da Igualdade Racial, ambas espaço de poder de facções partidárias diferentes, "uma conquista".
Qualquer reforma que as atinja será uma perda para o partido e um retrocesso do governo Dilma com relação ao governo Lula.
O mesmo não se dá com a Secretaria da Pesca, que também abriga um ministro titular e que foi criada por Lula para, segundo se justificou à época, dar espaço nobre à atividade, mas na verdade tratou-se da construção de um instrumento de poder a ser manejado por facção liderada pelo petista paranaense José Fritsch. Esta secretaria poderá ser reanexada ao Ministério da Agricultura, sem maiores reações.
O mesmo não se dará, porém, com a ideia que vem sendo insinuada de acabar com o Ministério do Trabalho, juntando-o ao da Previdência para adensar o butim do PMDB. Ainda não peremptoriamente afastada, essa hipótese levaria o PT a ter o ônus e acabar com o Ministério do Trabalho, uma heresia no programa partidário, bem como perder, para o PMDB, um loteamento tão emblemático que almejava reconquistar, tomando-o do PDT, mais especificamente, da Força Sindical que, em detrimento da CUT, domina a área hoje.
Ainda no capítulo do que vai mesmo acontecer há as substituições dos que sairão para concorrer às eleições municipais, entre os quais o mais notório é o ministro da Educação, Fernando Haddad. Na semana passada, Haddad levou consigo para uma reunião com a presidente Dilma o secretário executivo do ministério, homem do ex-ministro e atual governador Tarso Genro que saiu do MEC mas ali deixou seus lotes bem distribuídos. O secretário, José Henrique Paim Fernandes, esteve presente nos dois encontros de Haddad com Dilma na mesma semana, o que gerou especulação de que já está escolhido seu sucessor. Embora não se cogite tirar a Educação do PT, nem como hipótese, e não sendo Paim o futuro ministro, como quer o grupo de Tarso Genro, existe a possibilidade de remoção do ministro Aloizio Mercadante do Ministério da Ciência e Tecnologia para o da Educação.
Assim, o MCT poderia voltar para o PSB de Eduardo Campos, que já o dirigiu pessoalmente no governo Lula, abrindo vaga que o partido ocupa nas Secretarias da Integração Nacional e dos Portos.
As informações sobre as circunstanciais conversas que precedem as reflexões da presidente durante seu veraneio revelam, ainda, que Dilma não quer romper, nem mesmo desagradar, o governador pernambucano, o que poderá levá-la a deixar seu espaço preservado como ele quiser. No governo, a movimentação de Eduardo Campos, tanto ao lado de Gilberto Kassab, do PSD, quanto do PSDB nos Estados onde participa de aliança nas prefeituras, ou mesmo insinuações de pretensão à carreira solo precipitada para 2014, ainda não causam, aparentemente, maior comoção.
Argumenta-se que Campos jamais tomaria um rumo em confronto com Lula. Embora seu passo doble com Kassab desperte ainda alguma perplexidade, principalmente pela proximidade do prefeito paulistano com o ex-governador e adversário do PT, José Serra (PSDB).
São muitos PMDBs, como são muitos PTs, têm argumentado autoridades do governo diante da perspectiva de a reforma ministerial desagradar a uns ou a outros. O PMDB de José Sarney e de Renan Calheiros, por certo, não ficará insatisfeito no futuro, como não ficou no passado e no presente. Mas no PT, não é só um grupo que vai se dar bem. Toda a legenda será atendida na reforma futura, como o foi no passado e no presente.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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