terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Leve brisa:: Míriam Leitão

Uma leve brisa dissolveu o excesso de temores com os quais este ano começou. Ativos estão se recuperando em vários países do mundo, análises começam a contemplar a hipótese de ter se evitado o pior, os bons indicadores estão sendo mais ressaltados. Segundo o economista Alexandre Schwartsman, momentos de alívio e de aumento de tensão vão se alternar.

As primeiras declarações dos líderes europeus, especialmente Angela Merkel e Nicolas Sarkozy, no réveillon, foram de apagar qualquer brinde ao ano novo. Disseram que 2012 será pior do que 2011. Mas, agora, o ambiente desanuviou um pouco. Segundo Alexandre, sócio-diretor da Schwartsman e Associados, há vários motivos para este momento, mas nenhuma garantia de que ele veio para ficar:

- O mundo viverá momentos de tranquilidade e depois de piora, mas o fim da crise europeia ainda vai demorar muito. A comemoração agora é que ficou menos provável o cenário do derretimento nuclear depois que o Banco Central Europeu (BCE) avisou que daria aos bancos funding ilimitado por três anos. Agora já se sabe que nenhum banco vai quebrar por problema de liquidez.

Se algum vier à lona, será por ter problemas mais estruturais. Por outro lado, a ideia do BCE de, com isso, financiar indiretamente os governos não está garantida. Não podendo emprestar para os governos, o BCE dá liquidez aos bancos para que eles rolem as dívidas de países encrencados. Alguns analistas consideram que já está acontecendo e que é por isso que os governos da Itália, Espanha e até da Grécia conseguiram bons resultados em leilões de dívida.

- Mas não está garantido que os bancos vão usar essa liquidez para comprar títulos. É um salto de fé. E esta solução é meio capenga. Esse dinheiro pode simplesmente voltar ao Banco Central - diz Alexandre.

Ontem foi um dia particular porque a ação da Petrobras subiu com o anúncio do nome da nova presidente. Depois de uma perda de mais de R$70 bilhões de valor de mercado no ano passado, a ação este ano acumula alta de 18%. Não é a única. A ação da MRV já subiu 29,5%. Há outros exemplos. No conjunto, o Ibovespa acumula alta de 9,9%. O índice Dow Jones está no maior patamar desde maio passado, apesar de ontem ter sido dia de realização de lucros.

Álvaro Bandeira, da Ativa Corretora, disse que desde o começo do mês entraram US$3,5 bilhões em investimento estrangeiro na Bovespa. Por isso, apesar de investidores terem vendido ações para ter lucro com algumas altas, não houve queda no preço dos ativos.

Na semana passada, o Banco Mundial e o FMI soltaram análises de assustar. Em um documento, o Bird chegou a pedir que os emergentes se preparem para o pior. A Standard & Poor"s fez o que fez para assustar: rebaixou nove países da Zona do Euro. Mesmo assim, o ambiente está mais calmo.

- Todo mundo já sabe que a Grécia está quebrando. Mas a esperança é que seja um calote ordenado e não desordenado. Eu acho que a Grécia dará calote de 100% da dívida, mas as apostas são de que o haircut (a redução do valor da dívida) ficará entre 60% a 70%. O que resta a discutir é se isso vai disparar o CDS ou não - diz Alexandre Schwartsman.

Disparar o CDS significa cobrar o seguro. Quando a redução da dívida é negociada, não há cobrança de seguro.

- Se os que venderam proteção contra o risco grego tiverem que pagar, pode complicar porque ninguém sabe muito bem quem está com o mico - disse o economista.

Ele sustenta que há muita "casca de banana" no calendário até o fim do ano. Um evento no mercado bancário, uma eleição, uma rolagem de dívida podem elevar o pessimismo.

Em relação ao Brasil, diz que a bolsa sobe ou desce aqui dependendo da situação externa, nada a ver com a nossa conjuntura, que, aliás, é boa.

- Estamos já no ciclo de recuperação. O PIB do quarto trimestre não será brilhante, mas ficará positivo. O do primeiro trimestre de 2012 será melhor do que o quarto do ano passado. A inflação será menor em 2012 do que foi em 2011, em torno de 5,5% - diz Alexandre.

Álvaro Bandeira também acredita que a inflação este ano está relativamente controlada e que o país vai crescer acima de 3%. E outros motivos de alívio para ele são: Europa com vontade política para resolver a crise; EUA com dados melhores no último trimestre; inflação mais baixa na China.

Nada disso está garantido. Na verdade, o mercado ficou tão pessimista, e derrubou tanto os ativos no ano passado, que chegou a um ponto de várias empresas boas, aqui e lá fora, estarem com preços de mercado abaixo do valor real. Além disso, as sucessivas reuniões dos líderes europeus e declarações de que o euro será sustentado, qualquer que seja o custo, ajudaram a afastar momentaneamente os temores, até que outro evento aconteça. Até a Croácia deu motivo ao mercado de apostar que há uma chance de solução da crise do euro. Apenas 44% dos eleitores compareceram, mas os que foram disseram majoritariamente que querem ir à bordo da moeda comum. Pode ser apenas isso, uma breve brisa, mas enquanto ela sopra é um alívio, depois de meses em que só se ouvia falar nos vários cenários de colapso da Zona do Euro.

FONTE: O GLOBO

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