A relação do pemedebista Michel Temer com Dilma Rousseff é boa, mas a relação do PMDB com Dilma vai mal e pode piorar na retomada dos trabalhos no Congresso. Em síntese, esse foi o recado levado pelo próprio Temer a Dilma, antes das reuniões temáticas da presidente com os ministros e da troca de comando nos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia, formalizada hoje.
O PMDB esperava melhor sorte na reforma do ministério, anunciada como tal em setembro pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), mas que a presidente, semana passada, disse a Temer só existir na imaginação da imprensa. A presidente classifica as mudanças em curso como pontuais. Ela vai ainda movimentar algumas peças, segundo contou a Temer e Temer contou aos pemedebistas numa tentativa de acalmar os grupos do partido que esperavam muito mais das mudanças.
Ainda na semana passada o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp, disse que o partido avalia que está sub-representado no governo. A conversa de Dilma com Temer foi um balde de água fria nas pretensões dos pemedebistas. A conta, naturalmente, agora está sendo cobrada do vice-presidente da República.
Na realidade, Temer apresentou as faturas do partido para a presidente da República. Dilma deu de ombros. Para ser mais exato, a presidente prometeu "pensar", o que, na prática, equivale a dizer que tudo continua como dantes. Entre os grupos pemedebistas, o problema é a falta de prestígio do vice com a presidente. Prova disso é que ela esteve no início do mês em São Paulo, visitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e comemorou um convênio com o governador tucano Geraldo Alckmin, mas nem sequer telefonou para Temer, que à época havia se submetido a uma cirurgia na vesícula.
Na realidade, Dilma telefonou duas vezes no dia 3. Na primeira, Temer estava sedado; na segunda, sentia náuseas e também não pode atender. Depois disso é que ela foi a São Paulo. O vice já estava despachando em seu escritório, depois de dormir duas noites no hospital. Ao contrário de seus críticos, Temer acha que são muito boas suas relações com a presidente tanto no que se refere às políticas interna e externa (nos dois casos, cumpriu missões para a presidente) como no que diz respeito à administração.
"Com o vice do PMDB ela está extremamente bem", disse aos visitantes que o procuraram ontem em sua volta a Brasília, depois da cirurgia. Mas ele também reconhece a inquietação partidária. O vice tenta por panos numa crise que, por enquanto, é apenas presumida. A extensão da insatisfação no PMDB, um partido habituado a fazer emboscadas, somente será avaliada no mercado futuro das votações na Câmara e no Senado.
O argumento de Temer para acalmar os pemedebistas é que o modelo Dilma de governar é esse mesmo, ela prefere o técnico ao partidário. Como exemplo cita o Ministério de Cidades. A presidente deve substituir o atual ministro Mário Negromonte por outro nome indicado pelo PP, mas preferiria nomear o ex-ministro Márcio Fortes ou um outro técnico da área. A mesma situação do Ministério do Trabalho, que será ocupado novamente por um nome do PDT.
Outro argumento usado por Temer para acalmar os pemedebistas: na prática, até agora, as mudanças diminuíram o espaço do PT. O partido do governo, por exemplo, planejava botar o deputado federal Newton Lima, ex-reitor da Universidade Federal de São Carlos, no lugar do senador Aloizio Mercadante no Ministério da Ciência e Tecnologia. Ganharia duplamente, pois manteria o MCT com o PT e abriria espaço para o ex-deputado José Genoino, primeiro suplente, assumir uma vaga na Câmara. Dilma, no entanto, preferiu o nome técnico, Marco Antônio Raupp, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB).
Na avaliação feita por Temer aos pemedebistas, o mesmo ocorreu com a mudança de comando na Petrobras: Maria das Graças Foster, nova presidente, foi escolhida mais por sua condição de técnica e mulher que por eventuais ligações com o PT. "É uma pessoa dela". Sérgio Gabrielli, o presidente de saída, tem projeto político claro: já disputou o governo da Bahia e concorrerá de novo em 2014, na sucessão do amigo Jaques Wagner.
Outro exemplo: o Ministério dos Transportes. Embora o ministro Paulo Passos seja filiado ao PR, as bancadas da sigla no Congresso o reconhecem como seu legítimo representante. E vai ficar assim mesmo.
O PMDB pode até ser compensado com cargos "infraministeriais", segundo expressão pemedebista, o que também não é garantido. Até agora, mesmo considerando-se sub-representado, o PMDB foi um aliado incomodo mas fiel. As eleições e os cortes no Orçamento podem apimentar a insatisfação com a falta de ministérios com verbas gordas. Com aprovação recorde, Dilma está à vontade para pagar pra ver.
O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles descarta a possibilidade de ser candidato a vice-prefeito nas eleições de outubro na capital de São Paulo, como tem sugerido o prefeito Gilberto Kassab em conversas eleitorais com o PT. Meirelles, segundo diz, se filiou ao PSD para ter um espaço para atuar no debate político e econômico. Ele está escrevendo o capítulo referente à economia do programa do PSD. Ele resume a isso suas atividades políticas em 2012. Nem mesmo uma eventual candidatura a prefeito estaria em seus planos, na hipótese de o PSD resolver concorrer com nome próprio. O ex-presidente do BC não descarta eventuais projetos políticos no futuro, mas por enquanto sua atenção estaria integralmente voltada a projetos na iniciativa privada, sobre os quais prefere não falar. Meirelles o Conselho Público Olímpico, cargo que não o impede de assumir projetos na área privada.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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