O que parecia inevitável aconteceu: o tucano José Serra se curvou à pressão da cúpula do PSDB e resolveu disputar a prefeitura de São Paulo. Arquivou o projeto de tentar, pela terceira vez, ganhar uma eleição presidencial. Derrotado por Lula em 2002 e por Dilma em 2010, o ex-deputado, ex-ministro, ex-senador e ex-prefeito paulistano se mostrava irredutível na ideia de mais uma vez buscar incluir neste extenso currículo o mais alto cargo da União. A estratégia de Lula para a cidade de São Paulo o impediu de seguir em frente.
A partir do momento em que Lula, numa estratégia correta do ponto de vista petista, decidiu se envolver na disputa, para fragilizar os tucanos no seu quartel-general, a sucessão de Gilberto Kassab ganhou outra dimensão, maior que o próprio cargo de prefeito paulistano, já uma ampla vitrine na política nacional. Na empreitada, Lula repete o "dedazo", bem ao estilo caudilhesco do PRI mexicano, que deu certo no plano nacional: ungiu a neófita Dilma Rousseff e manteve o PT em Brasília; agora, quer fazer o mesmo com o ex-ministro Fernando Haddad, outro que jamais disputou um voto.
Se a eleição municipal paulistana não é uma eleição qualquer, com a entrada de Lula no jogo eleitoral, ao nomear o candidato petista e disputar pessoalmente o apoio de Kassab e do seu PSD - em cuja criação o prefeito demonstrou grande competência no jogo político -, o pleito ganhou importância ainda maior: vitorioso, o PT constrói base firme para, afinal, conquistar o Palácio dos Bandeirantes em 2014, sólida trincheira tucana há vários anos. E a vitória ficará menos distante com o apoio de Kassab. A tomada da prefeitura reforça a possibilidade de o PT estar no Planalto em 2015.
O PSDB teria, então, de brigar pela cidade de São Paulo com os melhores quadros. A opção Serra tornou-se, portanto, a única possível para o PSDB, mais ainda diante do fato de que Kassab, vice de Serra na prefeitura, disse abertamente que a única possibilidade de não fechar um acordo com o PT seria o relutante ex-prefeito lançar-se.
Até ontem, as prévias tucanas estavam mantidas. Os pré-candidatos Bruno Covas, neto de Mário Covas, um dos fundadores do PSDB, e Andrea Matarazzo retiraram os nomes e deram apoio a Serra, mas Ricardo Trípoli e José Aníbal mantiveram os seus. Sejam quais forem os desdobramentos, é improvável o cenário de Serra fora da disputa. O curioso é que o partido que se fez com o discurso da "democracia interna" é administrado como um regime teocrático, em que um aiatolá dita as regras, enquanto o PSDB paulista, em que uma aristocracia política sempre deu as ordens, decidiu partir para prévias, quando Serra rejeitou se lançar novamente à prefeitura. Ironias da política.
Era tamanha a resistência do tucano que sua candidatura foi confirmada sábado por Kassab. Ao dar a notícia, o prefeito acrescentou, de forma sugestiva: "...e seu (de Serra) projeto de vida e político passará a ser, pelos próximos cinco anos, a cidade de São Paulo." Como Serra já renunciou à prefeitura para disputar o Bandeirantes, em 2006, embora tivesse garantido que não abandonaria o cargo, haverá pesada campanha para convencer o eleitorado de que o tucano repetirá o gesto. E a única defesa eficiente que Serra pode acionar é apoiar publicamente Aécio Neves para ser o candidato tucano às eleições presidenciais de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário