Embora tenham concentrado as preocupações do Palácio do Planalto relativas ao pleito municipal de 2012 – logo traduzidas na entrega do ministério da Pesca ao PRB de Marcelo Crivella – os problemas da disputa na capital paulista constituem apenas um dos muitos semelhantes, em vários estados, que estão tendo efeitos bastante negativos no relacionamento do governo Dilma com o Congresso. E que vão pondo em xeque a continuidade da ampla base de apoio da presidente Dilma Rousseff montada pelo antecessor Lula. Eis o argumento básico do manifesto da maioria dos deputados do PMDB (entregue ontem ao presidente Michel Temer) com a cobrança de autonomia do partido diante do Executivo: a utilização da máquina governamental pelo PT no desencadeamento das campanhas para as eleições municipais. Tratada textualmente assim no manifesto: “Estamos vivendo uma encruzilhada, onde o PT se prepara com ampla estrutura governamental para tirar o PMDB do protagonismo municipalista e assumir seu lugar como maior partido de base municipal”.
Outra implicação, esta imediata, da postura crítica de peemedebistas diante do governo é o adiamento (decidido ontem) da votação final esta semana na Câmara do projeto do Código Florestal. Por causa do risco de derrota do empenho do Planalto para aprovação completa do texto deliberado no Senado. Contra o que o deputado Paulo Piau (PMDB-MG) preparou um relatório, que terminou não apresentando, com várias mudanças apoiadas pelos ruralistas.
E os conflitos do PT com o PMDB, bem como com mais partidos da base governista em torno de candidaturas a prefeito, todos estes procurando resistir ao rolo compressor do lulopetismo, generalizam-se em várias capitais e outros municípios dos diversos estados. Seguem- se alguns exemplos desses conflitos. Na Bahia, Geddel Vieira Lima, líder do PMDB estadual e dirigente nacional da legenda, está aliando-se a ACM Neto, do DEM, contra o candidato petista do governador Jaques Wagner. No Pará, os peemedebistas de Jader Barbalho colocam-se em campo oposto ao da ex-governadora do PT, Ana Júlia Carepa, no pleito de Belém. Em Porto Alegre, o PT recusou apoio à candidata do PC do B, deputada federal Manuela d’Ávila; bem melhor situada nas pesquisas do que o nome lançado pelos petistas.
O exemplo mais significativo do uso do pleito por partidos da base governista federal para reagirem à postura hegemônica do PT é o oferecido pela disputa paulistana. O PMDB, o PRB (mesmo depois da nomeação de Crivella para o ministério) e o PC do B reagem às pressões para a retirada das candidaturas, respectivamente, de Gabriel Chalita, Celso Russomano e Netinho de Paula. Enquanto o PSB, o PP e o PDT seguem caminhando para o apoio ao tucano José Serra.
E esta semana começou com uma coincidência bem negativa para os esforços do PT e do Planalto em favor da candidatura do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad: a divulgação de pesquisa do Datafolha e nova internação hospitalar do ex-presidente Lula. Entre os dados da pesquisa destacam-se o crescimento de José Serra, de 21% para 30% das intenções de voto, logo após o anúncio da aceitação por ele da candidatura a prefeito, e a persistência do baixíssimo índice do petista Haddad, que até caiu de 4% para 3%. Índice que, podendo ser amplamente revertido com a associação do nome ao de Lula, obstrui aqueles esforços na fase de definições partidárias para a montagem de alianças. Na qual, ademais do favoritismo que Serra ganhou, os candidatos dos partidos pressionados a apoiarem o petista Haddad, aparecem na pesquisa com índices bem superiores aos deste – Celso Russomano, com 19% (2% a mais que em pesquisa anterior); Netinho de Paula, com 10%; Gabriel Chalita, com 7% (crescimento de 2%).
Esse cenário também dificulta, ou quase inviabiliza, no plano das alianças, outro objetivo considerado relevante pelo lulopetismo para fortalecer a campanha de Haddad e debilitar a de Serra: a conquista do apoio do PSB. Cuja direção estadual integra o governo Geraldo Alckmin e tende a se posicionar em favor do candidato do PSDB, com respaldo dos dirigentes do diretório da capital, que são vinculados ao prefeito Gilberto Kassab. O que está levando o presidente nacional dos socialistas, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a resistir a pressões do PT e do Planalto para uma intervenção nos dois órgãos a fim de compeli-los a apoiar Haddad. A composição de ampla aliança em torno dele, com grande tempo de propaganda “gratuita” na TV e no rádio, é avaliada como essencial para viabilizar a vinculação do seu nome ao de Lula.
Jarbas de Holanda é jornalista
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