Guilherme Serodio
RIO - Nas ruas da capital fluminense, as placas da Delta Construções estão por todo lado. A empreiteira constrói um prédio para o Tribunal de Justiça do Rio orçado em R$ 141 milhões. Em 2006, tocou as obras de outro prédio do TJ, no valor de R$ 59 milhões. De acordo com a Secretaria de Fazenda, o Poder Judiciário do Estado destinou à Delta R$ 196 milhões entre 2005 e 2011.
O Ministério Público do Rio mantém 17 investigações sobre a empreiteira envolvendo irregularidades em contratos não só do governo do Estado, mas também prefeituras.
Procurada pelo Valor, a Delta informou em nota apenas "que a saída do consórcio Maracanã Rio 2014 é resultado de decisão estratégica e empresarial e não tem relação com as recentes denúncias" e que continuaria trabalhando normalmente nas demais obras contratadas. Na quinta-feira, a Delta deixou também o consórcio Transcarioca, que tocava com a Andrade Gutierrez. A empreiteira era responsável por 42% da construção orçada em R$ 789 milhões. O Transcarioca é um corredor expresso de ônibus que ligará a Barra da Tijuca ao aeroporto do Galeão.
A comissão montada para verificar irregularidades nos contratos com a Delta já está atuando. Presidida pelo secretário da Casa Civil, Regis Fichtner, conta com o subprocurador do Estado, Leonardo Espíndola, o auditor-geral do Rio, Eugênio Machado, e o subsecretário de Planejamento, Francisco Caldas. E "tem toda a isenção para fazer este trabalho", diz o governo em nota oficial.
O Executivo estadual pediu a seus órgãos e secretarias levantamento dos contratos com a construtora. Mas a Secretaria da Fazenda indica que o percentual de participação da Delta em contratos do governo se mantém estável entre a gestão anterior (8,07%) e a atual (7,98%).
Subordinado à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o Tribunal de Contas do Estado tem em seu site registro de 202 processos relacionados à Delta. Até o fechamento desta edição, o TCE não respondeu aos pedidos de informação do Valor.
Nas eleições de 2010, a Delta doou R$ 2,3 milhões a comitês partidários. Foram R$ 1,15 milhão em doações para o PT e o PMDB.
Acusado por Freixo de trazer a Delta para as concessões do Estado, o deputado federal Anthony Garotinho (PR) se defende. "O Fernando Cavendish foi introduzido na administração do meu governo por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na época meu aliado, e de quem é grande amigo", diz. Cunha teve posição de destaque na Cedae, segundo Garotinho, e "o volume de contratos da Delta com a Cedae foi muito grande, mas nada que fuja aos padrões normais de uma empresa de um Estado grande", diz.
Garotinho governou o Rio de 1999 a 2002, quando deixou o cargo para concorrer à Presidência. Sua esposa, Rosinha Matheus, comandou o Estado entre 2003 e 2007.
O deputado afirma que não é o governador quem autoriza aditivos. Mas diz que mesmo com os aditivos o volume de dinheiro destinado à Delta era muito menor na sua gestão. O deputado estadual Luiz Paulo (PSDB) afirma que entre 1999 e 2002 a Delta recebeu R$ 146 milhões do governo do Rio. Segundo a Secretaria de Fazenda, desde a posse de Cabral, em 2007, o Executivo do Rio pagou à Delta R$ 1,095 bilhão. "No meu governo era mais um empreiteiro; no governo Sérgio Cabral ele é o empreiteiro", diz Garotinho.
Em seu blog, Garotinho divulgou um vídeo que comprova a intimidade de Cabral e de integrantes de sua gestão - inclusive alguns designados para fiscalizar contratos com a Delta - com Cavendish. As imagens mostram Cabral e Cavendish em jantar informal na Europa.
A Cedae, segundo nota oficial da empresa, deixou o Siafem em dezembro de 2010 por ter se tornado independente do governo do Estado e como parte do planejamento para voltar ao mercado de capitais. A empresa destaca que os contratos no sistema foram firmados em gestões anteriores à de Cabral. E diz que os contratos sem licitação foram de curto período, todos já concluídos. A Cedae diz ter contratos de regime continuado que podem se estender por seis anos por aditivos, aumentando o valor de registro no Siafem.
Os 12 contratos da Delta com o município do Rio - sete com a Secretaria de Obras, sendo dois em caráter emergencial, - somam R$ 384 milhões. Os números pulam para R$ 703 milhões se acrescido o percentual no consórcio Transcarioca.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
Nenhum comentário:
Postar um comentário