O governo comemorou ontem o aumento do índice de aprovação de Dilma Rousseff. Embora o resultado sirva para render manchetes favoráveis à presidente, os demais achados da pesquisa do Ibope deveriam incutir preocupação à gestão petista, ou, no mínimo, ensejar-lhe melhores práticas. Em quase tudo o que interessa ao brasileiro, ela vai mal.
O governo Dilma é reprovado em seis das nove áreas de atuação pesquisadas. Quando o assunto é o que a administração federal vem fazendo em relação a impostos, saúde, segurança pública, taxa de juros, combate à inflação e educação, há mais cidadãos insatisfeitos do que satisfeitos.
A avaliação positiva predomina apenas em três áreas: combate à fome e à pobreza, meio ambiente e combate ao desemprego. Convenhamos, a primeira é um slogan vazio criado por Lula que colou; a segunda é o que Dilma chama de "fantasia", como fez ontem no Fórum do Clima; e a terceira, felizmente, vem perdendo importância dada a pujança do mercado de trabalho nos últimos tempos.
A gestão petista sai-se muito mal, principalmente, quanto a impostos, saúde e segurança pública. Em se tratando da carga de tributos que é imposta aos contribuintes, para cada brasileiro que aprova a derrama, mais de dois a abominam, mostrou o Ibope.
Neste aspecto, a desaprovação é de 65% e a aprovação, de 28%, num quadro estabilizado desde setembro passado. Frise-se, porém, que, entre entrevistados com curso superior, o percentual dos que rechaçam a política tributária da presidente alcança 81%.
Em saúde, o governo Dilma tem seu segundo pior desempenho, com percentual estatisticamente similar ao dos que desaprovam a política tributária: 63% (a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos).
Neste caso, a situação, pelo menos, melhorou para o governo desde a pesquisa de dezembro. Ressalte-se, contudo, que o percentual de desaprovação ao governo Dilma no quesito saúde sobe a 72% nas capitais e a 70% nas cidades com mais de 100 mil habitantes, num sinal de que quem sente na pele o drama do SUS o deplora.
A insatisfação com as ações do governo do PT em relação à segurança pública manteve-se nos mesmos níveis do fim de 2011: enquanto 35% as aprovam, 61% desaprovam. Novamente, o corte por subgrupos resulta em avaliação pior: o percentual de desaprovação é maior nas capitais (65%) e nas cidades grandes (66%) e alcança 73% entre os entrevistados com curso superior.
Diante dessas informações, o que se pode concluir é que, do ponto de vista do desempenho pessoal, Dilma Rousseff consegue, sim, ser bem avaliada pelo eleitorado: 77% aprovam sua maneira de governar. Mas, quando se consideram as ações efetivas de seu governo, a gestão da presidente vai mal, num alheamento quase esquizofrênico entre criadora e criaturas.
"A avaliação positiva de seu governo ficou estacionada, indicando um claro descolamento entre a popularidade pessoal da presidente e a avaliação de seu governo. (...) A presidente Dilma chegou ao Palácio do Planalto precedida da fama de ser uma boa gestora, e a avaliação negativa da maior parte das áreas de sua administração coloca em risco esse trunfo", comenta Merval Pereira n'O Globo.
Dilma aproveita-se, também, de sua menor exposição pública em relação a seu antecessor. Mostra disso é que 60% dos entrevistados pelo Ibope não foram capazes de citar, espontaneamente, nenhuma notícia relacionada ao governo de que se lembrassem. Ou seja, quanto menos se expõe, mais ela ganha - e o Planalto tem usado isso a favor da presidente, preservando-a do debate público.
Não há mal que perdure ou bem que sempre dure. Com o passar do tempo, a se manter o grau de ineficácia das ações do governo naquilo que realmente interessa à vida dos brasileiros, é bem possível que a população passe a ligar os problemas à pessoa da presidente. Principalmente, se as barbeiragens da economia jogarem por terra a sensação de bem-estar que o dinheiro no bolso e o consumo farto ainda despertam, ilusoriamente, nos cidadãos.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
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