A inflação de março, de só 0,21%, é boa surpresa. Terá importantes consequências na expectativa dos formadores de preços, no comportamento dos juros e, possivelmente, no avanço de outras decisões de política econômica.
A tendência é de que, até agosto, a inflação medida em 12 meses decline. Mas não dá para dizer que embica para os 4,45% em 2012, como conta o Banco Central, porque essa inflação mais baixa poderá, por si só, encorajar o governo a autorizar reajustes de preços há meses represados, como os dos combustíveis.
De todo modo, a aposta do Banco Central, embora de risco, está mais perto de ser concretizada do que a do resto do mercado, que na semana passada era de 5,40%.
Concorre pesadamente para uma inflação mais baixa a forte redução da contribuição da economia externa. A inflação dos países avançados se situa ao redor dos 2% ao ano, quadro que deverá ser mantido por muitos meses. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), por exemplo, avisou que não espera ataque da inflação nos próximos meses e que os juros básicos (Fed funds) permanecerão ao redor de zero por cento ao ano "até meados de 2014". Essa tendência provoca relativa estabilidade nos preços das matérias-primas e commodities, fato que se reflete no achatamento da inflação dos preços no atacado aqui no Brasil e no reajuste dos preços administrados pelo IGP-M (índice em que a evolução dos preços no atacado tem peso de 60%).
A grande incógnita para o comportamento da inflação nos próximos meses no Brasil será o comportamento do setor de serviços, de onde provêm as maiores pressões de alta. De todo modo, já se vê certa desaceleração no avanço dos preços também aí (veja o Confira).
Os comunicados oficiais do Banco Central apontam expansão dos salários acima dos índices de produtividade da mão de obra como fator de aceleração dos preços, por elevar a demanda por bens e serviços além da capacidade de oferta da economia. Também se pode contar com reajuste do salário mínimo bem abaixo dos 14,13% de janeiro. A regra já consagrada é a de que esse reajuste corresponderá à evolução da inflação do período mais a média do crescimento do PIB dos dois anos anteriores. Sugere que o reajuste do salário mínimo em janeiro de 2013, a ser levado desde já em conta, não passará dos 10%.
Boa pergunta quer saber se o Banco Central reduzirá os juros básicos (Selic) para abaixo dos 9,00% ao ano apontados na última reunião do Copom ou se os manterá estabilizados nesses patamares, como consta na última Ata do Copom.
O mercado financeiro deverá pressionar o governo para que mude rapidamente as regras da remuneração da caderneta de poupança, por temer o esvaziamento dos fundos de renda fixa. Mas o governo se empenha agora em baixar a margem dos bancos, como já fez na área do crédito (spread). Se a caderneta prometer rendimento acima do que o da maioria dos fundos, os bancos terão novo foco de pressão para reduzir as atuais taxas de administração cobradas nos fundos de renda fixa.
Aí está, desde outubro passado, a evolução da inflação dos serviços no período de 12 meses terminados em março. Parece clara a tendência a certa desaceleração. Neste último intervalo, os campeões da alta dos serviços foram mudança (+ 29,69%) e passagem aérea (+28,63%).
Retificação. Na Coluna passada, ficou dito aqui que a manifestação contra a política industrial do governo organizada quarta-feira, em São Paulo, por sindicalistas e dirigentes da Fiesp, teve 80 mil pessoas. Cálculos mais precisos não contaram mais do que 10 mil.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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