Apesar da intenção do governo de usar bancos públicos para estimular a concorrência e reduzir os juros no país, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal demonstram estar mal preparados. Levantamento do Globo em agências do Rio, em busca das taxas mais baixas anunciadas nos últimos dias pelas duas instituições, mostrou que gerentes dão informações erradas ou desencontradas, em meio a longas esperas, relatam Lucianne Carneiro e Daniel Haidar. No BB, a taxa do cartão de crédito, que caiu para até 3%, ainda era informada como se estivesse em 13%. A presidente Dilma criticou os bancos brasileiros, dizendo que os spreads são entraves ao crescimento
Juros baixos difíceis de conseguir
Agências de BB e Caixa no Rio
Lucianne Carneiro
Apesar do investimento agressivo em publicidade e da intenção do governo Dilma Rousseff de usar os bancos públicos para estimular a concorrência e reduzir os juros do sistema bancário brasileiro, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal demonstram estar mal preparados para o desafio. Levantamento feito ontem pelo GLOBO em oito agências no Centro e na Zona Sul do Rio - quatro do BB e quatro da Caixa - em busca de informações sobre as novas taxas, que foram anunciadas nos últimos dias, resultou em dados desencontrados ou errados, além de longas esperas. Banco do Brasil reconheceu que que não houve tempo para os gerentes conhecerem o programa Bom para Todos, nem para o treinamento dos funcionários.
Gerentes de duas agências do Banco do Brasil informaram que a taxa de juros para o cartão de crédito está em torno de 13%, enquanto quem aderir ao programa Bom para Todos - com salário, aposentadoria ou benefício recebido pela instituição - pode ter acesso a taxas de até 3%. Até para abrir conta - o que deveria ser um dos objetivos dos bancos - é preciso vencer a burocracia. Em duas unidades, os interessados devem agendar o horário e o dia. Em uma agência de Copacabana, o número de aberturas está limitado a três por dia e a primeira data disponível era 25 de abril.
- Deram esse guia com informações ontem (quinta-feira), mas já teve muita discussão e dúvida entre a gente hoje (ontem) sobre as taxas - disse o funcionário de uma agência.
O crédito direto ao consumidor (CDC) não teve redução no BB, mas mesmo sem novidade os funcionários não souberam informar ao GLOBO as taxas mínima e máxima praticadas. Outra negativa foi ao pedido de simulação do custo de um financiamento para um cliente com renda de R$ 6 mil. Os funcionários alegaram que não conseguiam estimar o custo do crédito para quem não é correntista, apesar de isso ser possível em outros bancos.
As longas esperas para quem visita o banco em busca de informações sobre abertura de conta foram um problema tanto no BB quanto na Caixa, de 50 minutos e uma hora, respectivamente. A questão é que quem quer abrir uma conta entra na mesma fila de quem quer renegociar empréstimo, tirar dúvida sobre o extrato ou obter o informe do Imposto de Renda, por exemplo.
- Já tenho uma poupança, mas vim saber informações para abrir uma conta e as taxas de crédito, principalmente para a construção. Soube dos cortes dos juros e fiquei interessado - afirmou o advogado aposentado Francisco Assumpção, que passou mais de uma hora na fila da Caixa.
Para confederação, faltam bancários
Na Caixa Econômica Federal, apesar de os funcionários estarem mais bem informados sobre as reduções nas taxas e de haver folhetos e cartazes sobre os cortes, há problemas.
A menor taxa do cheque especial da Caixa - que agora varia entre 1,35% e 4,27% ao mês -, no entanto, parece estar restrita a poucos. Segundo uma das gerentes, para ter direito à taxa menor o cliente precisa ter 2.500 pontos pelo sistema de classificação do banco.
- É um pouco impossível - admitiu a funcionária, explicando que um cliente com depósito na poupança de R$ 10 mil recebe apenas dez pontos pela classificação.
O funcionário público estadual Maxwell Ferreira quer transferir a dívida acumulada no crédito consignado de outros bancos, que chega a custar 1,5% ao mês:
- Um empréstimo com juro menor dá para, pelo menos, reabilitar R$ 100 do meu salário.
Para o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro, os problemas encontrados são resultado de falta de funcionários e de orientação fraca:
- O número de bancários até cresceu em 2011, mas foi insuficiente para atender à maior demanda puxada pela economia. Os bancos públicos estão corretos em reduzir juros, mas isso precisa ser feito com mais funcionários e treinamento.
O Banco do Brasil informou também que as divergências no atendimento se devem à recente implantação do programa e ao aumento de clientes nos últimos dias e que vai reforçar as orientações para a padronização do atendimento. Já a Caixa afirmou que está preparada para atender atuais e novos clientes, e vem ampliando sua rede.
(*) Colaborou Geralda Doca
FONTE: O GLOBO
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