O consumo interno é a lebre; a atividade produtiva, a tartaruga. A diferença de ritmo não se deve apenas ao investimento insatisfatório.
O IBGE mostrou que, em fevereiro, as vendas no varejo cresceram 9,6% comparadas com as de fevereiro de 2011 e 6,7% no período de 12 meses terminado em fevereiro (veja o gráfico). São números deflacionados. Refletem, portanto, evolução física.
Enquanto isso, o PIB segue bem atrás. O governo gostaria que, neste ano, avançasse mais do que 4,0%. E o Banco Central diz que não conseguirá mais do que 3,5%. No entanto, o arrasto de 2011 (quando o PIB avançou apenas 2,7%) parece ser o fator que segue contendo a produção interna.
Há dias, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, vem repetindo que a hora não é mais de puxar pelo consumo, mas de focar o investimento. Com isso, identifica um problema que tem atormentado o governo: o setor produtivo brasileiro vem sendo incapaz de acompanhar o aumento interno da renda.
A situação tende a desequilibrar as contas externas, à medida que o mercado interno se vê obrigado a se suprir cada vez mais de importações de mercadorias e alguns serviços (transportes, seguros, viagens, etc.). Por isso o rombo em Conta Corrente aumenta e tende a crescer. Foi de 1,5% do PIB em 2009; passou a 2,1%, em 2011; e tende a ser de 2,6%, em 2012.
O discurso oficial, de que o déficit cresce porque a indústria não investe e que, assim, não tem condições de suprir a demanda por bens de consumo, está truncado. A indústria não investe por não ter condições de competir com o importado, em consequência do altíssimo custo Brasil - e, para quem preferir, acontece também por causa do câmbio excessivamente valorizado que o governo não vai conseguir puxar para R$ 2,20 por dólar.
O problema é mais profundo. A falta de investimento também é consequência da insuficiência de poupança que, por outro lado, provém da política do governo, que privilegia o consumo em detrimento do investimento. Por trás disso está o entendimento (equivocado) de que basta criar demanda para que o investimento corra atrás. Já se vê que não é assim.
É postura diferente da que ocorre na Ásia. A maioria dos tigres asiáticos, fortes concorrentes do Brasil, poupa mais de um terço do que produz. A China, campeã do mundo, chega a 51% do PIB. Enquanto isso, o Brasil não poupa mais do que 16%. Essa naniquice está na base do baixo desempenho produtivo e da incapacidade do governo de determinar políticas.
Mas, afinal, como poupar mais? Sem focar nesse efeito, durante este governo Dilma a sociedade brasileira acaba de tomar decisão historicamente importante. O Fundo de Previdência Complementar do Servidor Público Federal (Funpresp) começará a criar um bolão de poupança que só se transformará em consumo dentro de 30 anos. Iniciativas assim deverão ser multiplicadas pelas administrações estaduais e municipais. Isso não resolve tudo e é ainda pouco, mas pode ser o começo de uma virada também aí se o governo mudasse a atual postura consumista.
O gráfico traz, trimestre a trimestre, a evolução do PIB anual da China.
Mais devagar. O avanço do PIB do primeiro trimestre do ano divulgado nesta sexta-feira ficou menor do que estava nas expectativas dos analistas: foi de 8,1% (e não de 8,3%). Parece diferença irrelevante, mas não é, em se tratando da segunda maior economia do mundo. No entanto, fator ainda mais importante para o desempenho econômico chinês dos próximos meses pode estar na mudança de governo, prevista para o início de 2013. Governo velho tende a mostrar serviço.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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