sábado, 14 de abril de 2012

Um bom erro de estratégia:: Fernando Rodrigues

Tudo indica ter ocorrido uma barbeiragem das grossas no comando político do governo quando quase todos comemoraram a instalação da CPI do já chamado "Cachoeiragate". A tropa petista e seus agregados pareciam se lambuzar com o desejo de imolar os algozes do tempo do mensalão. Até a presidente Dilma Rousseff entrou na onda e se empolgou.

Num segundo momento, Dilma e o entorno palaciano despertaram do idílio. Qualquer um em Brasília sabe que não existe CPI boa para o governo. Por um simples motivo: CPIs são incontroláveis.

É óbvio que o governo instalará seus prepostos mais confiáveis nos cargos relevantes da CPI. Mas o volume e o conteúdo das informações não garantem em nada uma redução de danos para o Planalto. Sobretudo quando uma empreiteira investigada, a Delta Construções, recebeu mais de R$ 800 milhões em 2011 por obras executadas para a União -muito desse dinheiro relacionado a ações do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Dilma Rousseff, como se sabe, virou a mãe do PAC por designação de Lula. A empreiteira Delta é uma espécie de filha querida do principal programa de obras federais.

O escopo da CPI é amplo. A investigação vai apurar "práticas criminosas" descobertas pela Polícia Federal envolvendo Carlinhos Cachoeira e agentes públicos e privados. Ou seja, não escapa ninguém.

É evidente que não há como antever se a lama respingará com força ou não no Planalto. Mas é certo que muitos aliados políticos da presidente sairão chamuscados.

Se foi uma derrapada política para Dilma, o erro de estratégia governista ao incentivar a CPI do "Cachoeiragate" deve ser celebrado. De maneira inadvertida, o Planalto fez a coisa certa. Mesmo que ninguém seja preso, esse tipo de investigação é um destampatório a serviço de sanear um pouco a cena brasiliense.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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