Para analistas, baixo crescimento e falta de reformas frustram investidores
Flávia Barbosa
WASHINGTON . O mercado internacional parece viver um período de desencanto com o Brasil. Depois das expectativas geradas pelo crescimento de 7,5% em 2010, investidores estão frustrados com as baixas perspectivas de expansão e com a ausência de uma agenda de reformas que garanta salto de produtividade e redução de custos operacionais. A insistência do governo em medidas que privilegiam o consumo, vistas como conjunturais, desconfianças renovadas quanto à atuação do Banco Central e a decepção com ações de controle de câmbio e juros mais baixos, que reduzem o retorno sobre aplicações, completam o cenário de ressaca.
Dúvidas sobre o potencial do país estão em publicações estrangeiras, que questionam a capacidade de o Brasil crescer mais sem atacar problemas históricos (baixos níveis de investimento, poupança e educação; infraestrutura deficiente; elevada carga tributária; política fiscal engessada, entre outros) e sem contar com benefícios externos como capital farto e barato.
Em artigo na revista "Foreign Affairs", Ruchir Sharma, do banco Morgan Stanley, argumentou que o país desperdiçou oportunidades abertas com o boom dos produtos básicos e sofrerá forte impacto quando seus preços caírem. Já a última edição da revista "The Economist" destaca, em dois artigos, a inversão do humor dos investidores com o país, apesar das imensas oportunidades de negócio.
- Todos esses artigos batem no lugar certo. Não é que o Brasil vai entrar em crise. Significa que, se o país quer ter uma taxa de crescimento maior, é melhor começar a investir mais e adotar sem demora reformas estruturais. Muitos se convenceram no fim do governo Lula de que hoje temos um novo Brasil. O novo Brasil não existe ainda, é potencial. Muitas das coisas boas que foram feitas são mais fruto da sorte do que do engenho - afirma Alberto Ramos, chefe para América Latina da Divisão de Pesquisas do grupo Goldman Sachs.
Intervencionismo estatal preocupa investidores
Para Sebastian Briozzo, diretor de ratings soberanos da agência Standard&Poor"s, o Brasil não é tão dinâmico como muitos pensam:
- É menos dinâmico do que China e Índia. Mas também, mais estável. O mercado tem sentimento volátil e ficou bem impressionado com os 7,5% de 2010. Agora está se dando conta de que o potencial é baixo, entre 3,5% e 4,5%, e que o país não tem feito mudanças profundas para elevar esse patamar.
Os investidores estão expondo desconfianças antes reservadas, avalia Robert Wood, analista de América Latina do setor de pesquisas de "The Economist" (EIU, na sigla em inglês). O BC sob a gestão de Alexandre Tombini é tido como mais suscetível politicamente do que o de Henrique Meirelles: aceita uma inflação mais alta em nome de crescimento e câmbio mais equilibrado.
O alto grau de intervenção estatal na economia e as regras do pré-sal, que não deixam claras as oportunidades de exploração, também causam desconforto a investidores. Reflexos do desencanto, potencializados pela crise europeia, seriam as perdas que a Bovespa tem sofrido, o fato de o risco-país ter subido e a falta de liquidez no mercado de câmbio para boas aplicações.
- O Brasil ainda recebe muito investimento estrangeiro direto. E tem um mercado doméstico gigantesco. Isso continuará. Mas poderíamos ver taxas mais altas com reformas estruturais - afirma Wood.
FONTE: O GLOBO
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