Por mais que o governo queira dourar a pílula, não dá para negar que a evolução do PIB do Brasil no primeiro trimestre deste ano foi decepcionante.
Como os indicadores mais recentes sinalizam baixo desempenho também nos dois primeiros meses do segundo trimestre, o governo terá ainda mais dificuldades para entregar neste ano avanço do PIB superior aos medíocres 2,7% obtidos no ano passado.
Houve uma boa surpresa: o comportamento melhor do que o previsto da indústria. Foi um crescimento de 1,7% sobre o trimestre anterior que aponta para quase 7,0% em termos anuais. Ninguém esperava tanto. Mas é preciso ver se essa decolagem será algo mais do que voo de galinha.
Há duas grandes decepções. A primeira foi o enorme recuo do setor agropecuário, de 7,3% no trimestre; a outra, a queda dos investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo), de 1,8% em relação ao trimestre anterior.
Não dá para atribuir o fiasco da agropecuária só aos problemas climáticos - embora tenham sido relevantes, sobretudo para a cultura da soja. O governo tem de ser responsabilizado pelas políticas desastradas ou, simplesmente, equivocadas na área estratégica dos biocombustíveis (especialmente na do etanol), como esta Coluna mostrou ontem.
Mais graves são as consequências do baixo investimento. Se é para crescer ao menos 4% ao ano, o investimento tem de saltar para 24% ou 25% do PIB. Infelizmente, não se veem precondições para isso.
É provável que parte do baixo desempenho do investimento esteja ligada à crise global, que leva o empresário a jogar na retranca e a esperar por dias melhores para retirar da gaveta seus projetos de expansão. Ocorre que os números baixos do investimento vêm se repetindo perigosamente. E, a eles, o governo vem respondendo da maneira inadequada.
Não basta, por exemplo, acionar o espírito animal do empresário com retórica, protecionismo comercial, mais câmbio e algum incentivo fiscal. Os estímulos de crédito também já deram o que tinham de dar. O consumo vai bem, mas a oferta interna já não dá mais conta da demanda. Afora isso, o consumidor brasileiro está excessivamente endividado e, em alguns segmentos, os elevados índices de inadimplência colocaram o setor financeiro na defensiva.
Daqui para a frente, ou o governo trata de garantir condições estruturais de investimento e de competitividade ou a economia brasileira continuará a apresentar uma sucessão de pibinhos - como o de 2011 e o que está pintando também para este ano.
Para assegurar condições estruturais, não basta que o governo derrube corajosamente o custo Brasil, o que ainda não aconteceu. Será preciso também que defina regras claras de jogo, renuncie a intervencionismos, deixe de inventar reservas de mercado (com esse ou outros nomes) e pare de fazer excessivas exigências de conteúdo local. A Petrobrás, por exemplo, não está dando conta do que se comprometeu a executar. E não só porque o governo Dilma insiste em executar política de preços com o seu caixa. Também porque a obriga a fazer política industrial com fornecedores que não cumprem nem prazos nem especificações.
Este é o saldo comercial do Brasil entre maio de 2011 e maio de 2012.
Enfraqueceram. As exportações já mostram perda de vigor. No primeiro quadrimestre, cresceram apenas 3,4%. Enquanto isso, as importações avançaram quase o dobro (6,4%). Estão sendo pressionadas pelo consumo que o setor produtivo interno não consegue suprir.
Gol deles. O jogo protecionista da Argentina já está prejudicando o Brasil. No quadrimestre, as exportações para a Argentina já são 12,7% mais baixas. E o superávit do Brasil caiu 38,1%.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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