Taxa de juros, expansão de crédito e consumo já não parecem capazes de reativar crescimento; falta eficiência para recuperar investimento
A alta do PIB de apenas 0,8% no primeiro trimestre (em termos anualizados) confirmou prognósticos de que a recuperação da economia permanece lenta, a despeito de todos os estímulos do governo.
Com tal resultado, fica inviabilizado um crescimento superior a 3% em 2012, como quer o Planalto. Para superar essa marca, a economia precisaria avançar no ritmo de 6% no restante do ano. Torna-se cada vez mais plausível que o crescimento em 2012 fique abaixo do colhido no ano passado (2,7%).
A letargia ataca tanto consumo quanto investimento, que não conseguem retomar o impulso de anos recentes. Do lado do consumo, apesar da boa situação de emprego e renda e das vendas de produtos básicos, como alimentos, o setor de bens duráveis está estagnado.
O mercado de automóveis é o caso mais crítico. Sofre com altos estoques e certo esgotamento de crédito. A inadimplência mantém-se em alta, e as vendas permanecem fracas. Com sorte, a redução recente do IPI ajudará as montadoras a vender o que têm no pátio, mas não se vislumbra aumento de produção no horizonte.
De modo geral, o comprometimento da renda das famílias com juros e amortização de crédito parece atingir limites, que impedem uma nova onda de consumo.
Do lado do investimento, a queda anualizada de quase 8% no primeiro trimestre (em relação ao anterior) é decepcionante -sobretudo diante dos juros básicos, já no mínimo histórico, e dos numerosos incentivos recentes.
É certo que parte do resultado fraco no trimestre decorre de fatores pontuais, como a queda na produção de caminhões após a adoção de novo padrão de motores. Mas não se pode tapar o sol com a peneira: mesmo depois de mais de R$ 300 bilhões em créditos do BNDES desde 2008, o investimento continua abaixo de 20% do PIB, quando deveria ser no mínimo 25%.
A dificuldade de muitos setores com aumentos de custos, maior concorrência externa e demanda contida, além do mau cenário global, reduz a disposição dos empresários a pôr o pé no acelerador.
Uma grande ajuda viria com mais investimento público, mas aqui os problemas parecem cada vez mais intratáveis. Obras de infraestrutura empacam na incapacidade gerencial para pôr bons projetos de pé sem que incorram em problemas com os tribunais de contas e a burocracia infinita.
Novamente fica claro que o Brasil encontra dificuldade para crescer mais que 3% ao ano. Remover as amarras estruturais ao investimento -em especial no governo, uma máquina ineficiente e perdulária- é a única saída para remediar tal quadro.
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