Que o PIB do primeiro trimestre do ano viria fraco, não havia dúvidas. A questão era saber a dimensão do desaquecimento da economia. O ínfimo 0,2% de expansão sobre os três meses anteriores confirmou as estimativas mais pessimistas e reforçou a prioridade dada ao governo a medidas de estímulo. Afinal, o mercado de trabalho continua aquecido, mas não por muito tempo, a depender da persistência desta fase de anemia econômica.
No período de 12 meses, o PIB cresceu apenas 1,9%, bem abaixo dos 2,7% de 2011. Isso significa que a economia deu um mergulho nada desprezível no primeiro trimestre. Início de ano é de arrefecimento na produção, mas não tanto.
É provável que o governo volte a insistir em medidas de sustentação e ampliação do consumo. As despesas das famílias, ao avançarem 1%, ajudaram o PIB a ter algum crescimento no trimestre.
Novas medidas deste teor realimentarão o debate sobre a capacidade efetiva de endividamento da população, para poder impulsionar as engrenagens da economia no segundo semestre. Se não rumo a um crescimento anual de 4,5% - praticamente inalcançáveis -, desejo oficial, pelo menos acima ou igual aos 2,7% de 2011.
Outra possibilidade é o governo reduzir a meta do superávit primário (de 3,1% do PIB). Tentação sempre presente em áreas da equipe econômica, o corte faz sentido lógico. Com a queda da taxa básica de juros (Selic) e a consequente redução da conta de juros - para saldá-la é que existe o superávit primário -, destinar parte do superávit para os anêmicos investimentos parece ser uma política correta. Mesmo porque é anticíclica, dirá o governo, como instruem os manuais de economia.
E também o melhor caminho é estimular a economia pelos investimentos, públicos e privados. Neste primeiro trimestre, os investimentos totais caíram 1,8%. Como eles já se encontram em nível muito baixo - em 19% do PIB, distantes dos 25% ideais -, qualquer incentivo será bem-vindo.
Mas para tudo dar certo o governo precisará ter algo escasso nestes nove anos e meio de poder deste mesmo grupo político: competência gerencial para executar de fato os investimentos de que o país carece. Ora, até os dados do PAC vêm sendo inflados, para melhorar os números, pelos recursos do Minha Casa, Minha Vida, não propriamente investimentos públicos, mas subsídios à casa própria e financiamentos imobiliários. Desse dinheiro não vai um tostão para ferrovias, rodovias, aeroportos etc. Não há grande otimismo, portanto. Além disso, vigora em Brasília irresistível propensão a gastos em custeio (salários do funcionalismo, assistencialismo etc.), bem mais fáceis de executar e de grande retorno eleitoral. Mas com o agravante de serem, quase sempre, engessados: uma vez feitos, são vacinados contra cortes. Por lei, no caso de salários; por motivos políticos, no caso do assistencialismo.
Quando a conjuntura mudar mais uma vez, e for preciso ampliar novamente o superávit primário, os cortes, então, privilegiarão os investimentos - como tem acontecido -, sem considerar aumentos na pesada carga tributária. Os desafios crescem, pois pela primeira vez tudo indica que o crescimento da arrecadação não ajudará o governo a manter as contas equilibradas. Gastar melhor deixa de ser jargão para se tornar algo imperioso.
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