segunda-feira, 30 de julho de 2012

Hora da verdade - Ricardo Noblat

"O mensalão foi o mais atrevido e escandaloso esquema de corrupção flagrado no Brasil." (Roberto Gurgel, procurador-geral da República)

Já valeu! No país da jabuticaba e do jeitinho, do esperto que leva vantagem em tudo e da impunidade que beneficia os mais influentes, dá gosto ver 38 notáveis enfrentarem anos de incerteza quanto ao seu futuro próximo. Na condição de réus, são acusados pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, peculato, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta. Acabarão condenados? Foram condenados, embora possam ser absolvidos.

Acusado de corrupção, Fernando Collor renunciou ao cargo de presidente para escapar do impeachment no Senado. Ignorou-se sua carta-renúncia. O mandato de Collor foi cassado por larga margem de votos. Mais tarde, o Supremo Tribunal Federal (STF) absolveu Collor por falta de provas de que ele prevaricara.

Mudou a situação de Collor? Ele passou a ser apontado como uma inocente vítima de escandalosa injustiça? Está escrito com tinta irremovível na memória coletiva que ele deixou roubar antes e durante o seu governo. E que desfrutou o roubo. Isso é suficiente para impedi-lo de sonhar com a recuperação da sua imagem.

As prerrogativas dele são iguais às dos seus colegas. Nem por isso Collor é igual a eles. Faz parte de um passado que desejamos esquecer. O "caçador de marajás" foi uma fraude. Hipnotizou a maioria dos brasileiros ansiosos por mudanças. Os candidatos da mudança foram para o segundo turno. Collor venceu Lula.

Por que Lula, que considerou "prática inaceitável" o suborno de parlamentares, confessou sentir-se traído por antigos companheiros e foi à televisão pedir desculpas, por que ele agora se refere ao "mensalão" como uma farsa montada com o propósito de derrubá-lo? O que o fez mudar de lado?

Não vale responder que Lula é uma "metamorfose ambulante". A verdade — ou algo parecido: o julgamento dos mensaleiros é também o julgamento de Lula e do PT. Lula quer ser lembrado como o "pai dos pobres" Não quer ser lembrado como o chefe dos mensaleiros.

O julgamento marcado para começar nesta quinta-feira não revelará o PT que temos porque esse já sabemos qual é. Revelará o STF que temos. Um STF capaz de ignorar o clamor popular pela condenação dos acusados — e assim afirmar sua independência. Ou um STF capaz de ouvir o clamor — e assim dar o basta mais forte à impunidade.

Da redemocratização do país para cá, dois dos três poderes da República se viram expostos a sucessivas avaliações da sociedade — o Executivo e o Legislativo. Esse último foi reprovado todas as vezes. Chegou a hora do Judiciário, o poder mais refratário a qualquer tipo de exame. O mais fechado. Oremos!

Conversa de gente grande. Foi meio azeda a conversa recente entre Lula e Eduardo Campos, governador de Pernambuco, a respeito da decisão do PSB de disputar a prefeitura do Recife, feudo do PT há 12 anos. Eduardo preside o PSB. Lula não gostou da aliança de Eduardo com o senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB, duro opositor do seu governo. "Presidente, não fui à casa de Jarbas me entender com ele. Foi ele que veio à minha" observou Eduardo. Em seguida, garantiu: "Se, para crescer, o PSB concluir que em 2014 deve lançar candidato a presidente ou fazer outro tipo de aliança, o senhor será o primeiro a saber. Eu mesmo lhe direi."

FONTE: O GLOBO

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