A presidente Dilma Rousseff, ao contrário de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, pode acabar seu primeiro mandato, em dezembro de 2013, com índices tucanos de crescimento econômico. A última previsão do mercado é de 1,9% de crescimento do PIB, em 2012. Na média, a previsão para os dois primeiros anos de Dilma está próxima à média dos oito anos de Fernando Henrique Cardoso, o primeiro e único presidente do PSDB a ocupar o Palácio do Planalto.
A confirmação das dificuldades por que passa a economia brasileira veio semana passada, com a divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado espécie de prévia do PIB, que registrou queda de 0,02% na comparação com abril. O mercado já trabalha com um crescimento de 1,9% para 2012, o que deixará Dilma com algo na faixa definitivamente tucana de 2,3%, na média de seus dois primeiros anos de mandato.
Esses números parecem deixar constrangida a presidente da República, tanto que Dilma tratou de minimizar as expectativas sobre o crescimento do PIB. "Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para suas crianças e adolescentes, não é o Produto Interno Bruto", disse a presidente durante uma conferência sobre os direitos da criança e dos adolescentes.
Isso foi na quinta-feira. No dia seguinte, ao discursar na cerimônia de batismo de uma plataforma da Petrobras, na Bahia, a presidente talvez tenha colocado o problema em uma perspectiva mais realista, muito além do cerco imposto ao debate pela disputa PT-PSDB. "Meu governo está atento para garantir que nosso país, diante dessa situação internacional, tenha um desempenho o melhor possível, e saia dessa crise aproveitando oportunidades que sempre uma crise traz".
A tabela abaixo, compilada pelo Valor Data, deixa claro que independentemente do erros de cada governo, as crises internacionais não distinguem o PT do PSDB. Dilma é hoje tão vítima da crise financeira desencadeada em setembro de 2008, com a quebra do Lehman Brothers, e da crise na zona do euro, como foi FHC em quatro grandes crises externas, na segunda metade dos anos 1990: México, Asiática, Russa e Argentina.
Crises econômicas mundiais são iguais para PT e PSDB
A crise mexicana começou em 1994 e pegou FHC no seu primeiro ano de mandato, 1995. O chamado "Efeito Tequila" desencadeou uma onda de desconfiança nos mercados, sobretudo nos países em desenvolvimento. FHC ainda conseguiu navegar nas ondas do Plano Real, baixado no ano anterior, o país cresceu 4,2% em 1995, mas já em 1996 caiu para 2,2%, tomou algum fôlego em 1997 (3,4%) e despencou para zero no ano da reeleição do presidente.
No primeiro ano (1999) do segundo mandato do tucano o país cresceu 0,3%, e o governo FHC também entrou na lista de responsáveis pelas grandes crises do período com a desvalorização do real, encapsulado durante os primeiros quatro anos do PSDB no Palácio do Planalto.
A crise monetária do sudeste asiático ocorreu em 1997; no ano seguinte sobreveio a crise da Rússia. Mas nem só a ela deve ser debitado a ausência de crescimento do PIB. Àquela altura já era evidente que FHC mantinha o câmbio sob rédeas curtas à espera da reeleição em outubro.
Os anos 2000 começaram com a crise da Argentina, gestada desde a década anterior, que se estendeu até 2002, quando chegou a registrar uma forte recessão, após a qual entrou em rota acelerada de recuperação. No Brasil, o sindicalista Lula e o PT conseguiram, por fim, conquistar a Presidência da República, após quatro tentativas.
O reducionismo do debate partidário PT-PSDB, em geral distante da crítica honesta, joga nas costas de um certo "efeito Lula" o baixo crescimento do primeiro ano do novo presidente. De fato, à época, Lula ainda despertava temores no mercado e na classe média (basta lembrar de Regina "eu tenho medo" Duarte na televisão). Mas já era um Lula domesticado que estava na Presidência. Sob a batuta de Antonio Palocci ele fez o forte ajuste que já em 2004 levaria o país a crescer 5,7%. Lula navegou uma época favorável da economia externa, seu maior problema, em 2005, foi interno, o escândalo do mensalão - este mesmo que irá a julgamento No Supremo Tribunal Federal, em agosto.
No fim de 2008, Lula tripudiou da crise financeira mundial. A conta da "marolinha" chegou em 2009, com o PIB negativo (- 0,3%). Dilma assumiu a conta da farra de gastos de 2010 (para sua eleição) e da crise mundial. PT e PSDB talvez divirjam efetivamente sobre o remédio para as crises, mas o país é vulnerável a cataclismas econômico-financeiros mundiais, não importa qual deles é o plantonista.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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