Fontes do Planalto avaliam que no centro da crise aberta pela explosão de greves do funcionalismo estaria a perda de poder da CUT e da Força Sindical no governo Dilma. Ontem, ao ser vaiada por grevistas, a presidente disse que sua prioridade, em meio à crise mundial, é garantir o emprego dos trabalhadores que, ao contrário dos servidores, não têm estabilidade.
Dilma: governo não é só para servidores
Sob vaias de grevistas, presidente diz que a sua missão é proteger empregos privados. Indústria corta 1,2% das vagas
Luiz Ribeiro
Rio Pardo de Minas — Tudo estava programado para ser uma grande festa, sem transtornos, mas a presidente Dilma Rousseff foi surpreendida e teve de encarar a fúria de servidores públicos que não aceitam a sua resistência em conceder reajustes ao funcionalismo no ano que vem. Um grupo de grevistas da área educacional vaiou a maior parte de seu discurso. Dilma não se intimidou, apesar da aparente contrariedade, e mandou o recado: governa para a maioria do país e não para uma classe específica, no que foi aplaudida pelo público. "Este é um país que tem de ser feito para a maioria de seus habitantes. Não pode ser feito só para uma parte deles. Tem de olhar o que é mais importante para o país atender", afirmou.
Segundo a presidente, em um momento de crise internacional tão grave e com a economia brasileira tentando manter as forças, é preciso garantir os empregos de trabalhadores da iniciativa privada, mais vulneráveis às tempestades que vêm de fora. "Nós, hoje, enfrentamos uma crise no mundo. O Brasil — porque tem os pés no chão — sabe enfrentar a crise e vai passar por cima dela, assegurando emprego para todos. E o que o meu governo vai fazer é assegurar empregos para aquela parte importante da população que é mais frágil, que não tem direito à estabilidade, que sofre porque, às vezes, pode ficar desempregada. E não queremos isso. Nós queremos todos os brasileiros empregados, ganhando seus salários e recebendo serviços públicos de qualidade", afirmou, a cerca de 40 metros do local onde gritavam os manifestantes, cercados por policiais militares e seguranças.
Sem recuperação
Na avaliação de Dilma, é preciso deixar claro que os servidores públicos não perderão o emprego em caso de um agravamento da situação econômica — o país crescerá menos de 2% neste ano e há dúvidas sobre uma recuperação mais forte no ano que vem. Por isso, a prioridade do governo está sendo buscar recursos no Orçamento de 2013 para dar incentivos ao setor produtivo. As medidas de apoio, sobretudo à indústria, começarão a ser divulgadas na próxima semana, em encontro da presidente com 30 dos maiores empresários do Brasil. Se atender aos pleitos dos servidores, que exigem aumento salarial linear de 22%, o setor público teria de comprometer mais R$ 92,2 bilhões das receitas para pagar pessoal.
A justificativa de Dilma foi sustentada pelos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pouco antes de ela discursar. A despeito de a produção industrial ter crescido 0,2% em junho, o total de empregados no setor caiu 0,2%. Foi o quarto recuo seguido. No primeiro semestre, as empresas fecharam 1,2% dos postos. "Não poderia ser diferente. Um único resultado positivo de produção na indústria não seria suficiente para alterar o cenário de contratação imediatamente. O mercado de trabalho reflete, com atraso, o aumento da produção. Precisa de um movimento mais consistente da indústria para gerar efeito no emprego", disse André Macedo, do IBGE.
Disfarces
Os argumentos de Dilma não convenceram os manifestantes. Enquanto ela discursava, eles gritavam: "A greve continua. Dilma, a culpa é sua". Os grevistas, por sinal, driblaram o esquema de segurança montado pela Presidência da República. Impedidos de portarem faixas ou camisetas do movimento na área reservada ao público, apelaram para a discrição. Entraram sem alarde e, quando a presidente começou a falar, passaram a entoar frases de protesto e estenderam cartazes, improvisados com tinta hidrocor e papel, que levaram escondidos. Os ativistas disseram ser do câmpus avançado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) de Montes Claros, do Instituto de Educação Tecnológico do Norte de Minas e do Sindicato Nacional dos Servidores Federais de Educação.
Dilma foi a Rio Pardo de Minas, a 685 quilômetros de Belo Horizonte, no norte de Minas, lançar a expansão do Programa Brasil Sorridente, para garantir tratamento odontológico, incluindo dentaduras, à população mais carente. Segundo ela, quando se faz política governamental, é preciso ver as pessoas como um todo, sem esquecer elementos fundamentais, como a identidade. "No passado, ninguém olhava para as pessoas de forma completa. A gente tratava no Brasil de muitas coisas, mas esquecia um dos elementos fundamentais. No (Programa) Brasil Sorridente, olhamos as pessoas não como uma parte, não como uma pessoa que tem uma doença, mas olhando como se pode dar saúde integral para ela", disse.
De acordo com números da Secretaria de Saúde de Rio Pardo, 20% dos moradores da zona rural do município precisam das próteses dentárias (dentaduras). Ou seja, são 20% de desdentados na área rural, onde reside 67% da população da cidade ( 28,7 mil habitantes).
Marco Aurélio critica Executivo
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou ontem o governo por não dar aos servidores a garantia de reposição salarial. Ele afirmou que os funcionários públicos têm o direito legítimo de exigir reposição do poder aquisitivo, acrescentando que é natural a ocorrência de greves quando esse direito não é respeitado. "Temos uma onda de paralisações do serviço público. Por culpa de quem? Por culpa do Estado, que tripudia com o servidor", afirmou. "O Estado não faz a reposição salarial que a lei garante e então os diversos segmentos começam a fazer barulho." O ministro lembrou que ele mesmo está há seis anos sem reajuste. "O que ganho hoje não compra as mesmas coisas que seis anos atrás", disse.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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