Um dos advogados de defesa do mensalão, na tentativa de inocentar sua cliente Geiza Dias, ex-secretária do publicitário Marcos Valério, da acusação de formação de quadrilha, procurou desqualificá-la como uma funcionária menor, sem poder de decisão. Para isso, chamou-a de "mequetrefe".
Mequetrefe está no Houaiss e, de fato, significa "indivíduo sem importância, inútil, insignificante, borra-botas, joão-ninguém". Em outra situação, uma funcionária chamada de mequetrefe iria para casa chorando, vergada de dor e humilhação. Mas Geiza ficou radiante. "Ela me ligou duas vezes", revelou o advogado. "E dava risada. Disse que adorou. Espero que também tenha agradado aos ministros".
Acontece que inútil, insignificante etc., é apenas o terceiro sentido de mequetrefe no dicionário. Antes disso, mequetrefe quer dizer: "1. Indivíduo intrometido, dado a meter-se no que não é de sua conta; enxerido. 2. Indivíduo de caráter duvidoso, patife, mariola, biltre". Suponha que, aos ouvidos dos ministros, sabedores de seu latim, o mequetrefe do advogado obedeça a uma dessas acepções -lá se vai a defesa de Geiza para o espaço.
O advogado contou depois que sua primeira ideia fora classificar Geiza como uma "funcionária baranga". E, voltando ao Houaiss, lá está realmente a definição de baranga: "1. [Mulher] de baixa qualidade, de pouco ou nenhum valor". Idem ibidem, não parece algo de que uma mulher gostasse de ser chamada, exceto para salvar a pele. Mas pior ainda é a segunda acepção de baranga, de vasto uso popular: "2. Mulher feia, deselegante, mal-ajeitada". Aquilo que o povo chama, vulgarmente, de bagulho.
Nelson Rodrigues diria que não se chama uma baranga de baranga, jamais. Nem sei se é o caso de Geiza. Mas, mequetrefe ou baranga, não faz diferença, desde que passe por sinônimo de inocente.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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