Ex-ministro da Fazenda diz que existe o risco de as turbulências afetarem o potencial de crescimento dos países emergentes
Vinicius Neder
RIO - A crise internacional é grave e levará muitos anos para ficar para trás, atingindo países emergentes, com risco de afetar o crescimento potencial de longo prazo de muitos deles. Esse foi o cenário traçado ontem pelo ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, que defende reformas estruturais como única garantia de crescimento para a economia brasileira.
"Não era uma marolinha", disse Malan, lembrando definição usada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no início da crise, em 2008. O ex-ministro foi um dos palestrantes do seminário "Para onde vai a América Latina", organizado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio. Ele não concedeu entrevista, mas foi bastante enfático durante seu pronunciamento.
Segundo o economista, o cenário envolve dois riscos para todos os países. O primeiro, mais cíclico, está relacionado ao processo de redução das dívidas pública e privada. Será "superado um dia" e pode ser atenuado.
O segundo risco, de longo prazo, é mais grave e estrutural, segundo Malan. "É o risco de essa crise afetar a própria taxa de crescimento do produto potencial", afirmou. "Esse segundo risco, de efeito sobre a taxa de crescimento sustentável no longo prazo, tanto no mundo desenvolvido quanto no em desenvolvimento, é muito maior, porque envolve questões estruturais."
Entre os desafios estruturais, o ex-ministro citou problemas conhecidos, como questões ligadas à produtividade, ao custo do trabalho, à competitividade internacional, à tecnologia, ao capital físico e humano, aos marcos regulatórios e à eficiência do setor público.
A essas reformas, o economista Edmar Bacha, diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica Casa das Garças, acrescentou mais uma: abrir mais a economia. Em palestra no mesmo seminário, Bacha, um dos formuladores do Plano Real, sugeriu como hipótese que a falta de abertura externa pode explicar a dificuldade de a economia brasileira crescer de forma sustentada acima de 4%.
Segundo o economista, o Brasil importa o equivalente a 11% ou 13% do PIB, menos do que seus pares latino-americanos, países como China, Rússia e Índia e também do que a média mundial, de 23% a 28% do PIB.
Milagre. "A menos que haja um "milagre brasileiro" da reabertura da economia, que foi frustrada, vamos continuar crescendo a 3,5%", declarou Bacha na palestra. "Aproveitamo-nos muito pouco do comércio internacional para aumentar a produtividade da economia", completou, após a apresentação.
Bacha citou o fato de a Embraer importar cerca de 70% dos componentes dos aviões que exporta. "A Embraer é o exemplo típico de algo que deu certo depois da privatização. Mas deu certo porque não tem essa política estúpida de componentes nacionais que estão aplicando na indústria do pré-sal. Essa política vai impedir que a gente chegue ao pré-sal", explicou Bacha.
Para o economista, o modelo histórico de industrialização no Brasil, com protecionismo, contribuiu para a redução da produtividade da poupança. Em sua palestra, marcada pela comparação entre o crescimento econômico da década de 1960 à de 1980 e o avanço de 2004 a 2011, Bacha disse que o problema crônico da economia brasileira não são as baixas taxas de poupança e de investimento, mas, sim, o pouco que se investe com os recursos disponíveis.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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