E lá se vai o segundo ministério na tentativa de ajudar a candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo. A senadora Marta Suplicy repete a mesma cena que o senador Marcelo Crivella protagonizou ao dizer que não sabia nem colocar uma minhoca no anzol ao ser nomeado ministro da Pesca, para aplacar a ira dos evangélicos com o PT.
Agora Marta diz que não sabe o que vai fazer no Ministério da Cultura, pois foi "surpreendida" pelo convite da presidente Dilma. Mas, na campanha, sabe que tem que convencer a "periferia" a gostar de Haddad, logo ela que foi descartada por Lula por representar a política velha.
Crivella não conseguiu controlar o PRB em São Paulo, partido da Igreja Universal que tem seu candidato na figura do "artista" Celso Russomanno, aquele que lidera as pesquisas de opinião na capital paulista e disse recentemente que não é político, dando talvez uma explicação intuitiva para o sucesso de sua candidatura.
A presidente Dilma, aliás, está não apenas desmentindo a informação de que não participaria da campanha eleitoral, como claramente exorbita de suas funções. O discurso que fez em rede nacional de TV supostamente para comemorar o Dia da Independência não passou de propaganda deslavada de seu governo. Para completar o quadro de transgressões legais, ela fez críticas à oposição aproveitando-se de privilégio que a lei concede ao chefe de Estado, e não ao chefe partidário.
Mas esse esforço de Dilma, complementando o de Lula, está fadado a ser inútil se não acontecer com Russomanno o que sempre aconteceu das outras vezes em que se candidatou a cargos majoritários: definhar na reta final. Pelo andar da carruagem, ele estará no segundo turno contra o tucano Serra ou o petista Haddad, que sofrem igualmente com a ânsia do eleitorado paulistano de descobrir uma novidade nessa polarização entre os dois partidos que governaram o país nos últimos anos e também a capital e o estado de São Paulo.
Pode estar havendo "desgaste de material", como diagnosticou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recentemente, em um surto de "sincericídio" que deve ter irritado Serra.
O fato é que, embora liderem a corrida às prefeituras dos 70 maiores colégios eleitorais do país, PT e PSDB apresentam desgaste nas capitais. Entre as dez maiores, só em uma, Manaus, o PSDB está em primeiro lugar com o ex-senador Arthur Virgílio, e mesmo assim Vanessa Grazziotin (PCdoB) está na sua cola. O PT nem isso. Só aparece em primeiro em duas: Goiânia e Rio Branco.
O PSDB tem chances de eleger mais prefeitos de capital, mas é São Paulo que representará reafirmação de sua liderança ou confirmação de que perde força em seu próprio eleitorado, da mesma forma que o PT depende de uma vitória de Haddad para dar início ao processo que pretende levá-lo a ganhar o governo paulista, controlado pelo PSDB há 18 anos.
O PSB está na liderança em quatro capitais, e partidos decadentes como o DEM podem se reabilitar com vitórias expressivas em Salvador ou Fortaleza.
A verdadeira campanha de extermínio entre PT e PSDB pode acabar sem vencedores. É o caso do uso da mensalão na campanha eleitoral. Ironicamente, é tema que não traz conforto para qualquer das duas correntes políticas majoritárias no país.
Se por um lado o PT está sendo humilhado no julgamento do STF, após ter passado sete anos tentando enganar a população afirmando que não houve o mensalão, ou que não passava de uma farsa da oposição para derrubar Lula, o PSDB também tem seus pecados nesse terreno. Além de ter originado o esquema criminoso na eleição para governador em 1998, com o mesmo Marcos Valério, que mais tarde levaria seu esquema de corrupção eleitoral para o nível nacional com a chegada do PT ao poder em 2002, o PSDB tem em São Paulo a apoiar a candidatura de José Serra ninguém menos que o deputado mensaleiro Valdemar da Costa Neto, que esteve na origem do mensalão petista ao negociar o apoio do PL, com a candidatura de José Alencar como vice na chapa de Lula.
Mais: numa demonstração de que o partido não tem nem mesmo organização interna, aparece na lista dos afetados pela Lei da Ficha Limpa em primeiro lugar, colocação nada honrosa para um partido que quer se impor ao adversário tanto no campo moral quanto no operacional.
FONTE: O GLOBO
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