Dilma troca Ana de Hollanda por senadora do PT, que nega vínculo com campanha
Em sua 15ª mudança ministerial, a presidente Dilma Rousseff trocou ontem Ana de Hollanda pela senadora petista Marta Suplicy no comando do Ministério da Cultura. A nova ministra vai assumir a função amanhã.
O convite foi feito em 22 de agosto, em acordo costurado para que Marta entrasse na campanha de Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo. Cinco dias depois, ao sair de reunião com Lula, ela anunciou a adesão à campanha.
Marta vira ministra após apoiar Haddad
Dilma antecipa mudança e entrega Cultura a senadora petista; candidato e presidente do PT negam "toma lá, dá cá"
Esforço para garantir apoio a petista e má avaliação de Ana de Hollanda explicam decisão da presidente
Natuza Nery, Valdo Cruz e Márcio Falcão
BRASÍLIA - Em sua 15ª mudança ministerial, a presidente Dilma Rousseff trocou ontem Ana de Hollanda pela senadora petista Marta Suplicy no Ministério da Cultura.
O convite foi feito em 22 de agosto, em um acordo costurado para que a senadora entrasse na campanha de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo.
Naquele dia, Marta chegou ao Palácio do Planalto por volta das 17h, ficando lá durante 45 minutos. Cinco dias depois, ao sair de uma reunião com o ex-presidente Lula, anunciou sua adesão oficial à campanha de Haddad.
Até então, resistia a participar por ter sido obrigada por Lula a abrir mão da candidatura -era a petista mais bem colocada em pesquisas.
A troca no comando da Cultura foi antecipada pelo site da Folha ontem de manhã e oficializada à tarde pelo Palácio do Planalto. Marta assumirá a pasta amanhã.
Segundo a Folha apurou, a senadora solicitou à presidente que sua nomeação ocorresse agora, alterando os planos de Dilma de trocar Ana de Hollanda só depois das eleições municipais.
Pesou ainda na decisão de precipitar a saída de Hollanda o vazamento de carta da ministra da Cultura endereçada à colega Miriam Belchior (Planejamento) reclamando verbas para sua área.
Ontem, Marta se disse surpreendida pelo convite, que inicialmente chamou de "especulação de site", e procurou negar que sua escolha estivesse vinculada à entrada na campanha de Haddad.
"Isso nunca foi falado. Não tem nenhuma [ligação]", disse a senadora, que fez um boicote de dez meses à campanha do colega de sigla.
Marta já havia sido sondada para a Cultura no início deste ano, mas recusou, sinalizando o desejo de assumir o Ministério das Cidades.
É a segunda troca feita por Dilma por conveniência política. Ela negara a prática em entrevista ao "Fantástico", em 2011: "Você me dá um exemplo do "dá cá" que eu te explico o "toma lá"".
A primeira mudança do gênero foi em março: a nomeação do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), bispo licenciado da Igreja Universal, para o Ministério da Pesca.
Haddad negou a troca do cargo pelo apoio de Marta. "Quem conhece a presidente Dilma sabe que não existe esse tipo de toma lá, dá cá com ela. Ela deixou bastante claro que não é de seu feitio", disse. "Se tivesse a ver com a minha campanha, teria sido feito muitos meses antes."
O presidente do PT, Rui Falcão, endossou o discurso: "Não houve troca nenhuma. Nem a Dilma proporia isso, nem a Marta aceitaria."
A coordenação da campanha de Haddad já esperava a nomeação de Marta, mas se surpreendeu com a data escolhida pela presidente.
Reservadamente, um dirigente disse que seria melhor que Dilma tivesse deixado a troca para depois da eleição, evitando uma repercussão negativa na imprensa.
Esta será a segunda passagem de Marta pelo governo federal. Em 2007, ela assumiu o Ministério do Turismo sob Lula. Na ocasião, foi criticada ao aconselhar a população a "relaxar e gozar" em meio a caos nos aeroportos.
Dilma tinha uma avaliação ruim do desempenho de Hollanda, mas postergou a decisão de trocá-la para não ceder a pressões de grupos petistas e do meio cultural.
A presidente chegou a comentar com assessores que não a fariam trocar ministros "no grito". Chegou a aconselhar Hollanda a "ficar firme" e resistir às pressões.
Ana de Hollanda não quis se manifestar ontem.
Colaboraram Flávia Foreque e Erich Decat, de Brasília, e Bernardo Mello Franco e Luiza Bandeira, de São Paulo
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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