Ana de Hollanda é demitida do Ministério da Cultura para dar lugar a Marta Suplicy, nomeada após o apoio ao petista em São Paulo
Na versão oficial, Ana perdeu o cargo porque reclamou em carta da falta de recursos para a pasta. Mas a carta foi apenas um pretexto. Embora negue, Marta ganhou o posto depois de muita negociação para entrar na campanha de Fernando Haddad a prefeito da capital paulista. Ana de Hollanda, irmã do cantor e compositor Chico Buarque, não é a primeira a cair em consequência da eleição em São Paulo. Antes dela, Dilma já havia entregado o Ministério da Pesca ao PRB de Marcelo Crivella, na frustrada tentativa de enterrar a candidatura de Russomanno; pôs Mercadante na Educação, para que não disputasse as prévias do PT; e acomodou Osvaldo Garcia, ligado a Maluf, na Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades.
Esplanada redesenhada para Haddad
Marta Suplicy deixa o Senado e assume a vaga de Ana de Hollanda, demitida do Ministério da Cultura. Mudança é a quarta promovida por Dilma com o intuito de fortalecer o candidato petista na disputa pela prefeitura de São Paulo
Paulo de Tarso Lyra, Gabriel Mascarenhas, Juliana Braga
Uma semana depois de participar pela primeira vez da campanha do petista Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo e a 25 dias das eleições municipais paulistanas, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) é premiada pela presidente Dilma Rousseff com o Ministério da Cultura, na vaga de Ana de Hollanda. É mais uma mudança na Esplanada para cacifar a candidatura do ex-ministro da Educação. Dilma já dera o Ministério da Pesca para o PRB de Marcelo Crivella; a Educação para Aloizio Mercadante, segurando o ímpeto dele em disputar as prévias do PT; e a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades para Osvaldo Garcia, ligado ao deputado Paulo Maluf (PP-SP).
No caso de Crivella, a estratégia naufragou. O Planalto conseguiu estancar a debandada dos votos evangélicos no Congresso, mas não impediu que Celso Russomanno (PRB) mantivesse a candidatura à prefeitura de São Paulo. Na época em que o senador fluminense foi empossado, em março de 2012, o candidato do PRB à prefeitura era visto como um azarão, que "desidrataria quando o horário eleitoral começasse". Hoje, Russomanno tem mais de 30% das intenções de votos e está praticamente assegurado no segundo turno das eleições.
Os petistas esperam que a nomeação de Marta Suplicy também atrapalhe a candidatura de José Serra (PSDB). O PR, legenda do suplente da petista, Antônio Carlos Rodrigues, apoia o tucano (leia mais na página 4). "No mínimo, eles ficarão constrangidos de ter conseguido uma cadeira a mais no Senado e não apoiar o nosso candidato em São Paulo", torce um parlamentar petista.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, elogiou a indicação de Marta. "Ela tem todas as condições de exercer o cargo. A Cultura foi uma das principais marcas da gestão dela como prefeita", declarou ao Correio. Em entrevista no Senado, a futura ministra, que será empossada amanhã, negou que a nomeação esteja ligada ao apoio à candidatura de Haddad. "Minha ida não tem relação com a campanha do Haddad porque, desde o começo, eu disse que na hora que fosse fazer diferença, eu entraria (na campanha). E entrei. Vou continuar trabalhando, participando dos comícios, como combinei com ele", anunciou Marta, que tem grande influência no eleitorado paulistano, em especial na periferia.
"Soldada"
Apesar de um desgaste crescente com o PT e com o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marta sempre viu em Dilma uma aliada confiável. Quando assumiu o mandato de senadora, ela prometeu "ser uma soldada da presidente no Senado Federal". Dilma reconheceu isso na nota oficial na qual confirmou a substituição de Ana de Hollanda. "Dilma Rousseff manifestou confiança de que Marta Suplicy, que vinha dando importante colaboração ao governo no Senado, dará prosseguimento às políticas públicas e aos projetos que estão transformando a área da Cultura nos últimos anos", diz trecho da nota.
Foi a presidente quem comunicou, no fim do ano passado, o pedido do ex-presidente Lula para que Marta abrisse mão de disputar as prévias internas do PT para a prefeitura de São Paulo. O encontro aconteceu na área vip presidencial do Aeroporto de Congonhas (SP). Na época, a presidente foi bastante clara ao dizer que "contava com Marta no Congresso, no cargo de vice-presidente da Casa, para continuar ajudando o governo no Senado".
Em março, mesma época em que Dilma indicou Crivella para a Pesca e o deputado Pepe Vargas (PT-RS) para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, Dilma sondou Marta para a Cultura, já insatisfeita com o bombardeio que Ana de Hollanda sofria. Educadamente, Marta recusou a oferta, dizendo que nos seus planos estava a pasta das Cidades.
As duas novamente se aproximaram há 20 dias, quando Dilma convenceu Marta a participar da campanha de Haddad. Disse que a senadora deveria entrar no momento em que a candidatura estava em ascensão, e a presença dela ainda seria importante para ajudar na eleição do colega petista. Marta topou. De lá para cá, foram mais três ou quatro encontros, a sós, nos quais o retorno à Esplanada começou a se consolidar. A mudança se cristalizou com a divulgação de uma carta na qual Ana de Hollanda reclamava da falta de recursos na pasta. O Planalto desconfia que ela própria vazou o documento para pressionar o governo.
Ontem, no Senado, Marta tentou demonstrar surpresa com o convite. "Não estava no programa. Acabei de falar com a presidenta. Não há como dizer não (a um convite de Dilma). E estou à disposição do governo, fico honrada com o convite. O Ministério da Cultura é extremamente importante, porque a identidade brasileira é a cultura. Vou enfrentar o desafio."
Irmã do compositor Chico Buarque, Ana de Hollanda foi comunicada da demissão por Dilma, em reunião que durou cerca de 25 minutos no Palácio do Planalto. Para evitar constrangimentos, a presidente a orientou a sair pelo elevador privativo. Ela e Marta reuniram-se à noite para acertar a transição.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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