Os eleitores votam para prefeito e vereador pautados pelas questões locais,
mas o resultado de uma eleição municipal é portador de mensagens sobre o plano
nacional. E afeta, naturalmente, o jogo político maior, especialmente a
eleição presidencial seguinte. O número de votos e o número de prefeituras e
vereadores obtidos por cada partido, bem como a importância econômica das
cidades conquistadas, são fatores que ajudam a estabelecer uma nova correlação
de forças. influenciam a eleição seguinte, seja na formação de alianças, seja
nas possibilidades de uso da máquina e até na obtenção de financiamento. Os
ministros do Supremo podem ficar escandalizados, mas é assim que a coisa
funciona. Quem ocupa as melhores posições no Poder Executivo, em todos os
níveis, tem mais facilidade para obter dinheiro. É claro que fazem isso
evitando montar esquemas ilícitos como o valerioduto mineiro de 1998 ou o do
PT, de 2003-2004.
A apuração dos votos do primeiro turno de ontem, em relação às capitais,
trouxe ganhos para os atores mais importantes — Lula, Eduardo Campos e Aécio
Neves, principalmente —, mas não estabeleceu nenhuma nova hegemonia. Nem o PT saiu
fragorosamente derrotado, como alardeado, por causa do julgamento do mensalão
pelo Supremo, nem a oposição avançou como esperava, ganhando a musculatura
desejável para conquistar a Presidência em 2014. Como há muito poder em jogo no
segundo turno, em 17 capitais, isso pode mudar. Mas, da parte do eleitor, o
voto pulverizado em todos os partidos, de forma quase equilibrada, pode ter
tido a seguinte mensagem: a briga de político é uma coisa, conveniências do
eleitor são outra.
Diversas são as leituras propiciadas por uma eleição municipal, mas, na hora
do frigir dos ovos, duas são as coisas que mais contam. Primeiro, quem leva as
grandes máquinas, como a prefeitura de São Paulo, cujo orçamento é maior do
que o de muitos estados. Nesse aspecto, até agora, o eleitor dividiu de forma
quase equilibrada o poder. A segunda questão relevante é o numero de
prefeituras, e nisso, mais uma vez, a hegemonia continua sendo do PMDB. A meta
de manter-se com mais de mil foi alcançada. E, com isso, o valor do apoio do
partido ao governo Dilma cresce. Além das presidências das duas Casas do Congresso,
o partido vai querer mais ministérios na reforma de janeiro/fevereiro, além de
manter Michel Temer como vice de Dilma na chapa de 2014. Prefeitos ajudam a
eleger presidentes e, principalmente, senadores e deputados federais que
garantem a sustentação dos governos federais.
Assoprar feridas
O segundo turno em São Paulo confirmou a volatilidade do voto que as
pesquisas vinham captando. Na última hora, elas não conseguiram acompanhar o
zigue-zague do eleitorado, apontando empate triplo entre José Serra, Celso
Russomanno e Fernando Haddad. Deu-se com Russo- manno a lenda do cavalo
paraguaio: na reta final, sucumbiu aos ataques dos dois adversários, mas foi
vítima também de sua própria inconsistência como candidato. Na hora H, o
eleitor refluiu para situações que já conhece. Serra já foi prefeito e
governador. Haddad é novo na área, mas o Pt é conhecido, também já governou a
cidade. Mas, considerando sua trajetória e a inexpressão de seu partido, o
PRB, Russomanno sai vitorioso com seus 21,6% dos votos. Agora, é um player.
Ontem mesmo, tucanos e petistas já colocavam a mão na massa para refazer as
alianças para o segundo turno e o apoio de Russomanno sem dúvida é um troféu
cobiçado. A tendência do PRB é apoiar Haddad, disse ontem seu presidente
regional. O partido tem no governo Dilma o ministro Marcelo Crivella.
Russomanno, pessoalmente, não anunciou decisão nenhuma. Apanhou muito dos dois
lados. Teria que esquecer as mágoas para apoiar um ou outro. Já seu vice,
Campos Machado, do PTB, deve apoiar Serra. É muito ligado ao governador
Alckmin.
Em todas as 17 capitais onde haverá segundo turno, a noite foi de costura de
novas alianças. Hora de assoprar as feridas do embate no primeiro turno. E,
para a presidente Dilma, o dia começa com definições importantes sobre sua
atuação na campanha. Para reeleger-se, ela vai precisar dos aliados, e não só
do PT. Agora, vai ter que suar a maquiagem em alguns comícios.
Dois caminhos
O governador Eduardos Campos sai da eleições credenciado a disputa a
Presidência, mas nem ele tem essa equação resolvida em sua cabeça. Ontem,
ouviu gritos de "Eduardo, presidente", e hoje mesmo vai desembarcar
como vitorioso em Brasília. A decisão, entretanto, será tomada mais adiante,
levando em conta duas hipóteses. Para romper com o bloco liderado pelo PT, que
reúne todo o campo da esquerda, ele terá que se posicionar à direita no campo
ideológico. Não tem como ficar à esquerda de Lula/Dilma, onde habita o PSol e
onde escasseiam os votos. Por isso, ele não descarta a hipótese de permanecer
no bloco e apoiar Dilma, mas impondo maior valor a suas ações. No mínimo,
figurando como vice.
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário