Pesquisas nos grandes municípios apontam que os eleitores nunca estiveram
tão voláteis, trocando de candidato durante a campanha sem a menor cerimônia
-para entusiasmo e, ao mesmo tempo, muita aflição dos institutos.
A tendência foi instantaneamente interpretada como um sinal de desalento do
brasileiro e, até mesmo, de fadiga do sistema representativo. O cidadão, por
essa leitura, se cansou de tudo e de todos na política. Daí a atração por nomes
que desconhecia antes da propaganda.
Tudo isso pode ser verdade. Mas é verdade, também, que desqualificar o eleitor
é a saída mais confortável sempre que as preferências contrariam prognósticos e
interesses.
Se o eleitor estivesse tão indiferente, contudo, ele não faria o mais
simples, apenas referendando ou rejeitando nomes que lhe são familiares? E, se
de fato desiludido, não haveria voto nulo em larga escala?
Talvez o ato de pular de galho em galho, de aderir e abandonar, signifique
outra coisa: a disposição de experimentar. Se não há "coerência", é
porque não houve sucesso na procura de quem honre compromissos assumidos.
Emendar Jânio Quadros, Luiza Erundina, Paulo Maluf, Celso Pitta, Marta Suplicy,
José Serra e Gilberto Kassab sugere inquietude, e não acomodação.
Certa vez um réu petista do mensalão, num desabafo que infelizmente preferiu
não tornar público, me disse acreditar que a política está hoje em todo lugar,
exceto nos partidos, cada vez mais ensimesmados e atolados em intrigas
palacianas e desde sempre avessos à autocrítica.
O desempenho surpreendente de "anticandidatos" como Celso
Russomanno (PRB, São Paulo), Ratinho Júnior (PSC, Curitiba), Daniel Coelho
(PSDB, Recife), Carlos Amastha (PP, Palmas), Edivaldo Holanda Júnior (PTC, São
Luís) e Edmilson Rodrigues (PSOL, Belém) não parece indicar a falência da
política, mas de quem se julgava dono dela.
Fonte: Folha de S. Paulo
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