As eleições realizadas ontem, em primeiro turno, e as últimas notícias sobre
o desempenho da economia dominam, neste momento, o interesse dos brasileiros em
razão das repercussões que têm sobre a vida nacional.
Pelo voto livre e soberano, o pleito reafirma a força da nossa democracia,
expressa no encontro de milhares de candidatos e de milhões de eleitores nas
urnas dos mais de 5.000 municípios brasileiros e no amplo debate sobre os
problemas nacionais que incidem de forma aguda na realidade das nossas cidades:
corrupção, gestão precária, saúde ruim, educação sem qualidade, o avanço da
violência e os crescentes desafios na área da mobilidade urbana.
Na economia, relatório divulgado pela Cepal aponta que o Brasil crescerá apenas
1,6% neste ano. É o segundo pior resultado entre os 20 países analisados da
América Latina e do Caribe, superior apenas ao do Paraguai e atrás de Panamá,
Haiti, Peru, México, Costa Rica e Bolívia.
Referendado também por órgãos do próprio governo, como o Banco Central, o
resultado desmente as previsões fantasiosas com as quais o governo tentou
falsear a realidade.
O número da Cepal já havia sido antecipado por instituições financeiras
internacionais e, à época, foi classificado como "piada" por nossas
autoridades econômicas, que passaram o ano anunciando crescimento em patamar
muito superior. Vê-se agora, de fato, com quem estava a realidade, neste
lamentável espetáculo do PIB em queda livre.
Mesmo com tantas evidências, o governo insiste em debitar na conta de outros
países a responsabilidade exclusiva sobre o problema, em vez de fazer o seu
próprio dever de casa. Ao agir assim, cumpre agenda que atende outros
interesses, sem se preocupar com os efeitos deletérios dessa estratégia, que
condena o país a um crescimento medíocre, como nos dois últimos anos, e põe em
risco a perspectiva brasileira como nação emergente.
Com o esgotamento das medidas emergenciais para tentar salvar o ano
eleitoral -e a constatação de que não funcionou, como antes, o tripé oferta de
crédito, queda das taxas de juros e benemerências fiscais a setores
produtivos-, resta-nos voltar à cobrança das reformas ainda por fazer, único
caminho para assegurar competitividade à economia e recolocar o país no rumo de
um crescimento sustentado e duradouro.
Ao fim do ano eleitoral, o governo terá de se haver com os antigos desafios
que se agravaram sem resposta: o peso dos impostos, o excesso de burocracia,
juros ainda nas alturas, legislação trabalhista do século passado, inércia e
incompetência para desatar o nó da infraestrutura, entre tantos outros que
entravam o desenvolvimento nacional.
Fonte: Folha de S. Paulo
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