Anunciado há dez anos como principal programado governo Lula para o combate à pobreza no Brasil, o Fome Zero não decolou e acabou sucedido pelo Bolsa Família.
Uma década depois, enquanto as autoridades e os militantes do PT cantam em prosa e verso o sucesso do “maior programa de transferência de renda do mundo”, o que se vê em algumas das cidades mais miseráveis do país é que, apesar de as condições de vida terem melhorado, a população pobre não consegue sobreviver dignamente por meio de sua própria renda.
Em Guaribas, no Piauí, onde uma comitiva de ministros de Lula esteve em fevereiro de 2003 prometendo aos moradores que em breve viveriam uma nova realidade, 87% dos 4.401 habitantes são beneficiários do Bolsa Família e não têm outro tipo de renda para o próprio sustento.
Em dez anos, o município avançou nos indicadores sociais, é verdade, mas as condições objetivas de vida da população permanecem precárias. Em Itinga, no norte de Minas Gerais, outra cidade visitada por Lula e seus ministros no início da década passada, a situação atual é igualmente desoladora. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, 2.194das 3.457 famílias registradas no cadastro do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome recebem o Bolsa Família, mas 31% da população do município não sabe ler nem escrever, enquanto 73% das pessoas com 10 anos ou mais não têm nenhuma instrução ou cursou apenas parte do ensino fundamental.
A renda per capita, que em 2000 era de R$ 328,52, hoje não passa de R$ 314,81. Anunciado pelo governo do PT como suprassumo das políticas sociais, o Bolsa Família nada tem de progressista ou verdadeiramente transformador. Ao contrário: o programa reforça o coronelismo tradicionalmente arraigado em várias regiões do Brasil mais profundo, além de funcionar como escandaloso instrumento eleitoral.
Basta constatar que o maior índice dos votos governistas nas últimas eleições esteve concentrado nas regiões mais atendidas. No pleito de 2010, Dilma Rousseff teve votos suficientes para que fosse eleita já no primeiro turno em nove dos dez estados onde o programa atinge sua maior cobertura.
Ao contrário do que querem fazer crer os áulicos do governo, as críticas à face conservadora do Bolsa Família não partem de uma fantasiosa “mídia golpista” ou da “direita reacionária” — até porque os coronéis estão todos ao lado do governo Dilma, como estiveram com Lula, agora vestidos sob a roupagem de neossocialistas.
Na verdade, é a própria população brasileira que já percebe os problemas estruturais do programa. Segundo dados de estudo recente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 58,9% da população discorda, total ou parcialmente, da afirmação de que o Bolsa Família “tira muita gente da pobreza”. Seja em Guaribas, Itinga ou em centenas de outras paupérrimas cidades espalhadas pelo país, o cenário é o mesmo.
Centenas de famílias deixaram a miséria absoluta, mas hoje, sem alternativas concretas, estão condenadas à pobreza inescapável, sustentada pela funcionalidade conservadora de um programa que melhora o presente para, no fundo, deixar tudo rigorosamente igual, comprometendo o futuro.
Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS
Fonte: Brasil Econômico
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