Governador também defende, mesmo após denúncias, Henrique Alves
Juliana Castro
RIO e SÃO PAULO - Pela primeira vez desde que o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) começou sua campanha para se eleger líder do partido na Câmara, o governador Sérgio Cabral falou abertamente sobre seu apoio à candidatura do parlamentar. Cabral e Cunha se aproximaram há poucos meses.
- Por mais que, do ponto de vista político, não tenhamos uma convivência mais próxima, temos respeito um pelo outro - disse Cabral, que participou ontem de um almoço dos deputados federais do Rio em apoio à candidatura de Henrique Eduardo Alves (PMDB) à presidência da Câmara.
A aproximação entre Cabral e Cunha teria vindo com a operação política para blindar, na CPI do Cachoeira, Fernando Cavendish, ex-presidente da construtora Delta e de quem os dois são amigos.
- O deputado Eduardo Cunha tem experiência. Com todo respeito a um goiano e a um gaúcho, apoio um carioca - disse Cabral em entrevista, referindo-se a Sandro Mabel (GO) e Osmar Terra (RS), rivais de Cunha na disputa.
A candidatura de Cunha preocupa a presidente Dilma Rousseff, que tentou "cortar as asas" do polêmico parlamentar desde o início de sua gestão, retirando indicados do deputado do setor elétrico e da Petrobras. Cunha é um dos investigados em inquérito aberto pela Procuradoria Geral do Estado, remetido ao STF, que apura suposto crime de sonegação fiscal, envolvendo ainda um sócio e um ex-dirigente da Refinaria de Manguinhos.
No almoço, ao qual compareceram 22 dos 46 deputados da bancada fluminense, Henrique Alves recebeu o apoio de colegas do partido e aliados, após a publicação de denúncias, como a de que suas emendas parlamentares beneficiaram a empresa de Aluizio Almeida, que era seu assessor na Câmara desde 1998. Almeida pediu exoneração após o episódio.
- É algo que me parece muito mais uma disputa do processo eleitoral interno e ele (Alves) me parece que tem se posicionado muito bem - disse Cabral, que chegou junto com o vice-governador Luiz Fernando Pezão e não cumprimentou seu desafeto, o deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ).
O prefeito Eduardo Paes também compareceu.
Perguntado se o episódio envolvendo seu assessor foi um erro, Alves disse que esse é um questionamento natural:
- Ele é meu assessor há 13 anos, estava fora da empresa e realizou comigo um bom trabalho. Ele mesmo percebeu que estava gerando distorções políticas, um embaraço. Ele saiu, vou nomear outro. Virou a página.
Ao discursar no evento, fechado à imprensa, Alves não tocou na questão da divisão dos royalties do petróleo. E defendeu o chamado orçamento impositivo, que obriga o presidente da República a cumprir o Orçamento aprovado pelo Congresso sem mudanças e contingenciamento. Dessa forma, o Executivo seria obrigado liberar as emendas individuais, geralmente o primeiro alvo dos cortes. Alves prometeu trabalhar para acelerar a tramitação de três propostas de emenda à Constituição sobre tema:
- Não pode continuar essa humilhação, o parlamentar ficar a conta-gotas daquilo que é direito dele, a emenda individual - disse Alves.
Maluf e Alckmin apoiam Alves
Mais tarde, em São Paulo, Alves reuniu-se com lideranças do PSDB da Câmara dos Deputados e recebeu o apoio do governador Geraldo Alckmin. Em encontro, no Palácio dos Bandeirantes, os tucanos cobraram do candidato que inclua na pauta, se presidir a Câmara, temas como o novo pacto federativo, a reforma política, o fundo de participação dos estados e a redistribuição do ICMS.
Participaram da reunião dirigentes do PSDB de São Paulo, Pernambuco, Acre e Rio Grande do Norte. Alves teve como cicerone o vice-presidente Michel Temer, principal padrinho da sua candidatura.
- Sempre defendo a proporcionalidade na Mesa. Acho que a disputa política se faz no plenário, no voto, nas posições políticas. A Mesa deve retratar todos os partidos, seguindo a proporcionalidade da eleição. E me parece natural que o PMDB, que é o maior partido, tenha a presidência - disse Alckmin.
O deputado Paulo Maluf (PP-SP), que participou de jantar em apoio a Alves, afirmou que seu partido não se constrange em apoiar um nome envolvido em recentes denúncias, mas afirmou que toda investigação é bem-vinda.
-Não constrange partido nenhum, porque tem muito padre que é acusado de pedofilia e nem por isso eu deixo de ser católico. Tenho absoluta certeza que essas denúncias aparecem em toda véspera de eleição, contra todo mundo. Creio plenamente na inocência de Henrique Eduardo Alves. Eu o conheço e conheço a sua família - afirmou Maluf.
Fonte: O Globo
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