SÃO PAULO - Com o mesmo tom cauteloso dos boletins mais recentes, a equipe do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) projeta uma alta entre 2,8% e 2,9% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2013 - abaixo, portanto, das expectativas de mercado, que apontam alta de 3,2%, segundo o Boletim Focus, do Banco Central. A alta mais comedida deve ser puxada por uma débil retomada dos investimentos produtivos, além de um carregamento estatístico estimado em 0,8%. "É um começo de ano de recuperação trôpega. O investimento não vem no primeiro trimestre e a inflação segue salgada", diz a coordenadora técnica do Boletim Macro, Silvia Matos.
O risco de a economia crescer ainda menos, mais perto de 2% ou 2,3% no ano, não está descartado. "Uma recuperação dos serviços com uma indústria ainda parada levaria a esse quadro", diz Silvia. Uma variação negativa da atividade econômica no primeiro trimestre, contudo, está fora de questão. A explicação, afirma, é que a indústria pode até parar no primeiro trimestre, mas é pouco provável que ela se contraia.
Segundo Silvia, a possibilidade de uma queda do PIB nos três primeiros meses do ano só existiria diante de um quadro mais grave, de escassez de energia, por exemplo, com preços disparando e empresas deixando de produzir - o que está fora do campo de visão central do Ibre. "O temor atualmente não são números negativos. É mais um marasmo mesmo", diz Silvia.
A frustração, afirma a economista, continua do lado da indústria, que custa a reagir mesmo em meio a estímulos vindos do governo e câmbio desvalorizado. A expectativa é que o setor tenha ficado parado no quarto trimestre de 2012 em relação ao trimestre anterior. Já para o setor de serviços, a previsão é que ele deve ter apresentado alguma melhora depois de um terceiro trimestre sem mostrar reação. "Mas com a pressão do mercado de trabalho ainda forte é difícil pensar no setor de serviços crescendo muito, como vimos no passado", diz Silvia.
Segundo o documento, um dos maiores obstáculos à indústria são os estoques ainda elevados nos primeiros meses do ano, os quais podem adiar um pouco mais a retomada do investimento, cuja recuperação era esperada em meio a juros mais baixos. Para Silvia, é possível que o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) seja baixo em 2013, justamente porque vem de um carregamento estatístico muito ruim, ainda que segmentos como o de caminhões e ônibus já apresentem melhora significativa. "O fato é que a gente vem de uma contração de 4,5% [na FBCF] em 2012, o que sinaliza que já começamos mal."
Para exemplificar o quão complexo é o quadro, a pesquisadora afirma que, se os investimentos ficassem estagnados neste primeiro trimestre do ano, com uma alta ao redor de 1,5% nos trimestres seguintes, o crescimento no ano seria zero. Apostando em um cenário menos pessimista, a equipe avalia que a FBCF deve subir 3% em 2013, com um ritmo um pouco melhor no segundo semestre, puxado por investimentos em infraestrutura.
Outro ponto de preocupação destacado pelo Boletim Macro do Ibre é a inflação. "É inquietante porque começamos um ano com preços pressionados não só pelo setor de serviços, o que já era esperado, mas também por bens manufaturados", diz Silvia. Ela lembra que toda a inflação de duráveis ficou concentrada no último trimestre, o que indica que um item que ajudou bastante no ano passado, já começa 2013 bem pressionado.
Segundo Silvia, em meio às incertezas acerca dos impactos de elevação dos preços em itens como transportes e combustíveis, é possível prever apenas que a inflação será alta ou muito alta neste começo de ano, sem cravar um número. "A inflação deve ficar entre 0,7% e 1% em janeiro e uma inflação de 1% em janeiro sinaliza 6,2% em 12 meses". Para Silvia, mesmo diante do que chama de "tentativas artificiais" do governo de segurar os preços, a inflação em 2013 está mais para 6% - acima dos 5,53% projetados pelo mercado.
Segundo ela, o governo até poderia tentar retomar a trajetória de queda dos juros diante da recuperação mais lenta da economia, mas descarta a possibilidade justamente em razão da inflação mais alta. Para Silvia, a melhor saída para esta questão hoje seria o câmbio. "É claro que a estabilidade cambial ajuda, mas o ideal mesmo seria a valorização do real, o que é algo difícil porque bate em outra restrição, a indústria."
Nem tudo no cenário do Ibre, porém, é frustração. "Algumas coisas estão progredindo, como a sondagem de bens de capital, que aponta uma melhora no médio prazo, e as concessões que devem deslanchar em algum momento." Para Silvia, o setor público vai entrar pesado, motivando os investimentos em infraestrutura. "Esse é o motor e um estímulo para investimentos em outras frentes. A bola está com o governo". (FL)
Fonte: Valor Econômico
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