RUMO A 2014 - Na base do morde e assopra, governador ao mesmo tempo se coloca como aliado mas lança críticas ao PT, sem dar certeza a governo e oposição dos seus planos à sucessão de Dilma
Débora Duque
Ele é aliado, mas passou a adotar uma postura de independência em relação ao governo federal. Age como se a candidatura presidencial, em 2014, fosse uma possibilidade real em seu futuro político, mas faz questão de negá-la publicamente. Também não a descarta. Elogia a presidente Dilma Rousseff (PT), diz que quer ajudá-la a "vencer 2013", mas tornou-se um porta-voz voluntário das dificuldades que caem sobre e economia do País, enquanto os ministros suam para transmitir uma mensagem otimista do quadro financeiro. É assim, numa espécie de jogo duplo, que o governador Eduardo Campos (PSB) tem conseguido se descolar do Planalto e projetar seu nome nacionalmente, sem afastar-se, no entanto, da base do governo.
E ele enxergou na economia um terreno fértil para semear essa estratégia. Desde que o crescimento do PSB foi consagrado nas últimas eleições municipais, Eduardo Campos não abre mão de fazer considerações públicas sobre o setor. Já disse que o País, "apesar dos esforços da presidente", cresceu abaixo da média nos últimos dois anos. Criticou também a política de estímulo ao consumo a partir das desonerações promovidas em determinados setores - como o automobilístico -, que terminaram por penalizar Estados e municípios, e encabeça o debate sobre a remodelação do chamado "Pacto Federativo".
"Quem puxa a política é a locomotiva econômica. Sem gás e combustível, ela descarrilha. Ele identificou esse cenário de PIB pequeno somado às dificuldades econômicas nos Estados e municípios, que vivem uma situação injusta, e começou a focar nessa questão", observa o analista político e professor da Universidade de São Paulo (USP) Gaudêncio Torquato. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em dezembro do ano passado, o governador foi além da economia e tocou numa das principais bandeiras dos governos não só de Dilma, como também de Lula: as políticas sociais. "São da agenda do século XX. Transformaram-se em programas enormes porque o fosso social que se criou no País levou a isso, mas não podemos achar que é a agenda do século XXI", alertou o socialista, na ocasião.
Seus discursos têm apontado para a necessidade de se adotar novas políticas econômicas e novas formas de atender às demandas sociais. Defende um "novo", ainda obscuro, sem confrontar diretamente com o modelo atual, praticado pelo PT. Suas ponderações, normalmente, vem acompanhadas de afagos à personalidade da presidente ou do mantra: "não é o momento de eleitoralizar o debate político". Aderiu a uma ginástica política que, segundo o analista Gaudêncio Torquato, deve se esticar até o início do ano que vem. A quase dois anos da eleição presidencial, os discursos dúbios do socialista lhe conferem subsídios para que, no futuro, possa justificar confortavelmente a escolha por qualquer um dos caminhos: seja o voo próprio ou o apoio à reeleição de Dilma. "Se fizesse diferente e se lançasse desde já, ele fecharia as portas. O descolamento dele é para inglês ver. Ele precisa do governo federal", resumiu o analista.
Até porque, segundo Torquato, a notoriedade das duas gestões de Eduardo Campos no Estado se deve em parte aos incentivos financeiros recebidos durante os dois mandatos de Lula. "É preciso considerar que ele cresceu bastante sob o pano de fundo de uma injeção financeira nunca antes vista em Pernambuco. Ele é produto do meio. Alavancou sua imagem por conta do canteiro de obras em que o Estado se transformou durante o ciclo de Lula e canalizou tudo isso para si", pondera.
Ciente de suas credenciais políticas, mas também de seus limites, a tendência, de acordo com Torquato, é de que Eduardo Campos continue atuando em "ziguezague", na base do "morde e assopra", confundindo tanto aliados como adversários, até definir seu próximo passo.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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