Condenado pelo
mensalão, ex-ministro não discursará no evento
Sérgio Roxo
SÃO PAULO e brasília
O ex-ministro José Dirceu participará pela primeira vez - desde que foi
condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos e dez meses de prisão
no julgamento do mensalão - de um evento público ao lado do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. O trio deverá estar no ato
que o PT realizará amanhã, em um hotel da Zona Norte de São Paulo, para
celebrar os dez anos do partido no poder.
Da forma que a
programação do evento foi elaborada, a saia-justa de um encontro entre Dirceu,
Lula e Dilma deve ser evitada. Apesar de ter presidido o PT por mais de sete
anos e de ter sido o homem forte nos dois primeiros anos do partido no poder, o
ex-ministro ficará entre os demais convidados, sem lugar na mesa principal do
ato. Também não terá direito a discursar.
Os dirigentes da
legenda negam que houve cuidado para impedir uma uma foto dos três juntos:
- Não existe essa
preocupação - afirmou o secretário de organização do partido, Paulo Frateschi.
O secretário do PT
informou que apenas Lula, Dilma, o presidente do partido, Rui Falcão, o
presidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio Pochmann, e dirigentes de legendas
aliadas que comparecerem terão direito a falar. A expectativa da organização é
que cerca de mil pessoas compareçam.
A assessoria de
Dirceu confirmou a presença do ex-ministro. Também ex-presidente do PT e
condenado no julgamento do mensalão, o deputado federal José Genoino (SP) é
outro que deverá ir ao evento. Ele comandou a legenda nos dois primeiros anos
do governo Lula. Sua presença, porém, não foi confirmada. Genoino foi condenado
a seis anos e 11 meses de prisão no julgamento do mensalão.
Ex-presidente da
Câmara, o deputado João Paulo Cunha (SP) também tem chance de engrossar o grupo
de mensaleiros na festa petista. A sua assessoria informou que a ida ao ato
será decidida hoje. Cunha foi condenado a nove anos e quatro meses de prisão.
O evento de amanhã
terá o objetivo de sepultar os rumores de uma eventual candidatura de Lula em
2014, e dar início às discussões em torno da campanha à reeleição de Dilma. A
avaliação dos petistas é que boatos sobre a volta do ex-presidente têm sido
propagados pela oposição para enfraquecer a presidente. O PT quer demonstrar
unidade.
Dentro do projeto de
reeleição, Dilma deve intensificar a agenda de viagens pelo país. O PT vai
realizar, a partir deste mês, seminários em 13 capitais, ainda como parte das
comemorações dos dez anos no poder. A expectativa é contar com a participação
da presidente e de ministros.
O segundo evento da
série de celebrações acontecerá em Fortaleza, na próxima semana, e contará com
a ministra do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza
Campello. Ela fará seminário sobre o enfrentamento da pobreza no Brasil. Em
março, serão realizados seminários em Salvador e Rio de Janeiro, em datas ainda
não definidas.
Lula vai costurar
alianças pelo país
No ato de amanhã, no
Hotel Holiday Inn, em São Paulo, será divulgado um balanço de 15 páginas sobre
o governo petista. O escândalo do mensalão não deve ser citado. O partido
pretende resgatar suas conquistas nos últimos dez anos e fazer uma análise dos
desafios do país para moldar as bandeiras para a eleição do próximo ano.
- Vamos ter que
enfrentar (a questão do mensalão), não acabou ainda. Agora vem os recursos,
depois a discussão no Congresso (cassação de mandatos). Nós vamos ter que
passar por isso. Mas esse seminário não é para isso - afirmou Frateschi.
Para o senador Jorge
Viana (PT-AC), é natural que o partido, após dez anos no poder e 33 anos de
existência, cometa erros, mas, segundo ele, é importante que o partido aprenda
com eles:
- O PT não está mais
na adolescência, temos cicatrizes e não podemos ter vergonha delas.
Lula também deve
correr o país para costurar a manutenção das alianças petistas com partidos da
base para 2014. O ex-presidente pretende reeditar as Caravanas da Cidadania,
realizadas entre 1993 e 1996.
Fonte: O Globo
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