segunda-feira, 4 de março de 2013

'Temos hoje um quadro de estagflação'

Para economista, mistura de baixo crescimento com inflação em alta é maior desafio para governo

João Sorima Neto

SÃO PAULO - A expansão de apenas 0,9% da economia em 2012, com uma inflação anual acima de 6%, põe o Brasil numa incômoda posição, que tecnicamente os economistas chamam de estagflação. Trata-se de um quadro de baixo crescimento com elevação de preços. A diferença, no caso brasileiro, é que a estagflação clássica traz aumento do desemprego, o que ainda não acontece por aqui. O economista José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, afirma que o governo está em xeque diante deste quadro: ou aumenta o juro para frear a alta dos preços ou tolera uma inflação maior em troca de um Produto Interno Bruto (PIB) mais generoso. Mendonça de Barros estima um crescimento de 3% este ano, com a inflação cedendo um pouco, mas ainda rondando o patamar de 6%. "O Brasil está preso a uma armadilha de baixo crescimento. Só com o aumento do investimento a economia vai acelerar", diz.

Como senhor analisa o PIB de 2012?

O dado negativo que mais chamou a atenção foi a queda de 4% no investimento no ano passado. Embora tenha melhorado um pouco no último trimestre do ano, foi uma baixa muito pesada. O que fez diferença foi a retração no setor privado. Os empresários, especialmente no setor industrial, recuaram bastante no investimento. A hipótese mais razoável para explicar esse comportamento é que a incerteza se elevou com a contínua mudança de regras, especialmente no setor elétrico.

Há outros fatores que abalam a confiança dos empresários para investir?

A crescente piora da infraestrutura do país é outro fator que desestimula o investimento. Nações que investem menos de 5% do PIB em infraestrutura não crescem, é histórico. O Brasil investe 2%. Apesar da baixa da Selic e do juro do crédito do BNDES, além de uma certa desvalorização cambial, a incerteza por todos esses fatores explica a retração do investimento.

Se esse sentimento de incerteza persistir, o que se pode esperar para o PIB deste ano?

O investimento privado será decisivo para o crescimento da indústria e do PIB. Se o investimento crescer 2,9%, acredito que a economia se expanda 3%. O problema é que, até agora, apenas a produção de caminhões, que entra na conta do investimento, está forte neste início de ano por causa da safra recorde. Para reconquistar a confiança do empresário, leva tempo.

Os leilões de concessões de ferrovias e rodovias que o governo pretende fazer este ano não ajudam a melhorar o investimento?

Embora eu acredite que os editais de concessões serão mais amigáveis ao investidor, esse investimento só terá reflexo em 2014. Os leilões acontecem em abril, maio, junho. Mas até fazer canteiro de obras já é julho, agosto.

E o consumo das famílias que vinha puxando o PIB, não vai crescer mais?

Nos próximos dois anos, as pessoas ainda terão de pagar as dívidas que fizeram. O consumo vai crescer, mas a expansão será de 2% até 2014. Não veremos mais aquele ritmo chinês.

A economia brasileira configurou-se em 2012 com baixo crescimento e inflação mais alta. É um quadro de estagflação?

A estagflação caracteriza-se pelo crescimento baixo e pressão inflacionária, com aumento do desemprego. É o que temos hoje no Brasil, mas curiosamente com desemprego baixo. O crescimento do emprego está muito melhor do que o da economia. Para sair desse quadro, ou o governo trabalha para o PIB crescer, mantendo o desemprego baixo, ou faz a inflação ceder. Vai depender dos números de produção e inflação que vierem para que o governo tome a decisão de elevar ou manter o juro (a Taxa Selic) nos atuais 7,25%.

Por que o desemprego está baixo no Brasil, mesmo com o baixo crescimento?

É o setor de serviços que está absorvendo essa mão de obra, com o aumento da demanda por serviços. Mas esse é um setor de baixa produtividade. Eu acredito que a taxa de ocupação deve cair um pouco este ano. É difícil ela se manter nesse patamar com crescimento baixo. E o custo da mão de obra explodiu. Em termos reais, os salários subiram entre 9% e 10% para algumas categorias. Os preços dos serviços acompanham esse aumento, o que leva à inflação.

Diante de tudo isso, dá para concluir que o governo está numa encruzilhada?

Na minha avaliação, o governo caiu na armadilha do baixo crescimento. Apostou que o investimento público, através das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), puxaria o crescimento. Mas não conseguiu executar essas obras. Depois, baixou o juro e melhorou o câmbio e achou que o crescimento vinha por gravidade. Não veio, por causa da falta de infraestrutura, do aumento do custo da mão de obra e do custo Brasil. Agora, a alternativa é buscar o crescimento pelo investimento privado. Não existe bala de prata.

Fonte: O Globo

Um comentário:

Mauricio disse...

Mané é Mané, todos sabem. O que dá (dava) medo é o Mané Palpiteiro, figura identificada e ironizada por Lula. Hoje, esses tipinhos não assustam mais ninguém!