Daqui até a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) temos 15 dias pela frente. Um período curto, mas quem sabe o governo aprende a falar a mesma língua até lá.
Sei que estou sendo otimista, quase irrealista, mas é tudo o que deseja a diretoria do BC, que desde o início do ano faz um trabalho de resgate de sua credibilidade e tenta sinalizar que tem autonomia para tocar a política monetária.
As últimas declarações da presidente, que depois ela tentou esclarecer, ameaçam jogar por terra todo o esforço do seu próprio BC.
Ao se dizer contrária a medidas que derrubem o crescimento para combater a inflação, Dilma fez recuar os juros futuros, que vinham subindo depois que o BC passou a dizer que a alta de preços preocupava e que ele poderia elevar os juros.
Reservadamente, a equipe do BC vinha comemorando a elevação dos juros futuros na esteira da mudança do tom de seu discurso. Era, segundo a equipe de Alexandre Tombini, o primeiro passo no ajuste da política monetária visando segurar a alta preocupante da inflação.
Bem-sucedido, esse primeiro passo poderia amenizar um novo ciclo de alta dos juros, mas dificilmente evitá-lo. Afinal, como se diz dentro do governo, não dá para segurar a inflação apenas no "gogó".
Por outro lado, falas mal-ajambradas, como a da presidente na semana passada, podem jogar lenha na fogueira da inflação. E operam contra todo um discurso ensaiado dentro do Planalto de que a chefe não é contra subir os juros.
Segundo assessores, Dilma admite que o país tenha de crescer um pouco menos neste ano para segurar a inflação. Mas não quer uma dose exagerada de alta nos juros que derrube o crescimento.
Enfim, o fato é que, neste governo, política monetária virou conversa de botequim. Tudo bem que assim queiram. Só que isso tem um preço, que pode ser cobrado agora
Fonte: Folha de S. Paulo
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