Ex-governador conta hoje com poucos aliados no Congresso e no partido
Pedro Venceslau
Onipresente na agenda política do PSDB em todas as eleições desde 2002, o ex-governador José Serra está diante de uma encruzilhada. Embora o partido esteja empenhado em impedir que ele deixe o tucanato, as opções apresentadas no tabuleiro para 2014 não o empolgam.
O cenário favorito para a maioria dos tucanos ouvidos pelo Brasil Econômico é que Serra tenha a humildade de ser candidato a deputado federal.
Dessa forma ele ajudaria o partido a eleger uma grande bancada paulista e ainda deixaria a vaga de senador aberta para ser usada por Geraldo Alckmin na montagem de seu palanque reeleitoral.
Sabe-se, entretanto, que dificilmente o ex-governador aceitará tamanho retrocesso na carreira. Ocorre que, ao contrário do que aconteceu nos pleitos anteriores, dessa vez os tucanos — inclusive muitos do campo serrista — estão pouco dispostos a esperar. "Ele está em uma situação muito difícil e precisa pensar bem sobre o caminho que vai trilhar. Não há um horizonte simples pela frente para o Serra, já que existe pouco espaço disponível para ele no PSDB", reconhece o deputado tucano Walter Feldman.
Serrista da linha de frente, ele jogou a toalha e está de ma¬las prontas para o partido que Marina Silva está tentando criar. No organograma partidário do PSDB existem poucos aliados do ex-governador. No diretório de São Paulo, seu reduto, por exemplo, há apenas uma dirigente notoriamente serrista: Ieda Areias, que foi assistente pessoal de Serra.
Em termos práticos, o futuro do homem que ditou o ritmo do partido durante mais de uma década está hoje nas mãos do governador Geraldo Alckmin, que comanda sem oposição a máquina estadual. Na Câmara dos Deputados, a influência de José Serra diminui a passos largos. Apenas três parlamentares têm cumprido o papel de defendê- o publica e internamente: Jutahy Júnior (BA), Antonio Carlos Mendes Thame (SP) e Vaz de Lima (SP). Nenhum deles es¬teve em um jantar oferecido pela bancada ao senador Aécio Neves na semana passada.
No comando nacional tucano, o principal "advogado" de Serra é o ex-governador Alberto Goldman, vice-presidente do partido. E no Senado a tropa de choque se resume ao paulista Aloysio Nunes Ferreira. "O Serra se transformou em alguém que atrapalha muito o plano do PSDB. Ele tem uma trajetória que já se cumpriu", avalia o cientista político Carlos Novaes, do Instituto Fluxodrama. O discurso oficial do cardinalato tucano é conciliador. Afinal e apesar de todos os pesares, Serra é um gigante eleitoral com musculatura suficiente para embaralhar — ou mesmo implodir — o jogo da oposição. "A rivalidade dele com o Aécio é página virada. O Serra pode escolher o papel dele no projeto partidário. Está tudo nos trilhos", afirma o deputado federal Marcus Pestana, presidente do PSDB de Minas Gerais e braço direito do senador Aécio.
Especialistas apostam em candidatura ao Senado
Cientistas políticos criticam postura enigmática e veem PPS pequeno para sua saída do PSDB
O silêncio de José Serra e o na¬moro com o PPS contribuem para criar uma neblina no cenário político do PSDB e do ex-governador. Especialistas acreditam que o espaço para o tucano está cada vez menor por conta de sua postura enigmática.
"Saindo para um partido pequeno como o PPS, ele teria pouco tempo no horário eleitoral e não teria uma estrutura partidária para ser eleito. Dentro do PSDB fica difícil, pois existe um consenso entre os caciques do Aécio Neves ser o candidato", comenta o cientista político Pedro Fassoni Arruda, doutor em Ciências Sociais pela PUC/SP.
Antes visto como um nome capaz de derrotar o projeto petista, Serra tem se demonstrado um político com fôlego curto para uma disputa política. "É questionável que ele seja um gigante, pois tem uma rejeição muito grande. O estilo de fazer política do Serra desagradou o eleitor e o partido. Hoje ele não é visto como uma pessoa que pensa no partido", completa Arruda.
Até mesmo a saída, que pode ser temida pelos tucanos pelo fa¬to de Serra poder roubar votos da candidatura de Aécio, tem o seu poder minimizado. Tudo por conta da derrota para Fernando Haddad (PT) na eleição de prefeito em 2012.
"Não penso que vai haver um número significativo do eleitorado que vai acompanhá-lo. Se ele tivesse força para fazer essas coisas, ele seria eleito prefeito", afirma José Álvaro Moisés, cientista político e diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas - NUPPs/USP.
Sem qualquer sinal de definição por parte de Serra sobre suas ambições, os cientistas políticos podem no máximo apostar. E a maioria das fichas são depositadas em uma candidatura para o Senado. "É muito difícil saber qual o caminho, pois o Serra é enigmático, deixa tudo para a última hora. Ele deve buscar ser senador, mas nada é claro quando se trata dele, pois ele joga em direções contraditórias", ressalta Moisés.
Uma coisa é certeza, a demora de Serra não tem contribuído para ele e para o PSDB.
Fonte: Brasil Econômico
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