Diante dos sucessivos sinais de avanço da inflação - a ser confirmado hoje com o anúncio do IBGE de que em março, anualizada, ela ultrapassou o texto da meta, de 6,5%, com grande impacto nos meios políticos e empresariais – a presidente Dilma Rousseff intensificou nas últimas semanas as ações voltadas ao controle de preços através de novas medidas de desoneração de tributos. Articuladas com projetos para uma retomada do crescimento, entre os quais os de pragmática atração de investimentos privados para a infraestrutura. E com a ampliação dos programas assistencialistas. Tudo isso com o respaldo de crescente presença na mídia, centrada inicial-mente em eventos no Nordeste para bloqueio da dissidência política do governador de Pernambuco Eduardo Campos.
O novo patamar a que a inflação está chegando, com forte disseminação e com a correspondente aos preços pagos pela população pobre (de até 2,5 salários) já nos 7%, passa a impor um aumento de juros, que a presidente rejeitava com veemência, qualificando-o como obstáculo ao crescimento. O controle inflacionário por meio de atos pontuais de desoneração fiscal – a ser descontada não por uma queda dos enormes gastos de custeio mas por maior redução do superávit primário, isto é, com mais deterioração das contas públicas – e a manutenção de juros baixos, mesmo que também artificialmente, são os dois ingredientes básicos dos objetivos econômicos e eleitorais do governo Dilma: uma retomada do crescimento apoiada em alto grau de consumo, com a preservação do nível de emprego, e o controle da inflação mesmo que com distorções macro e microeconômicas cujas implicações negativas possam ser enfrentadas depois das eleições. Combinação que, de par com o reforço dos programas assistencialistas, garantiria a continuidade de seu elevado nível de aprovação popular e, assim, o amplo favoritismo inicial para a reeleição (que poderá erodir-se com o fracasso dessa combinação).
Tais ingredientes, porém, estão sendo postos em xeque pela persistência e até o agravamento da pressão inflacionária. E as preocupações com isso, agudas no mercado e já forçando a direção do Banco Central a assumi-las, terminaram chegando ao núcleo do governo. Constituindo o tema de almoço anteontem no Palácio do Planalto, da presidente (acompanhada de Guido Mantega e de Arno Agostin, secretário do Tesouro) com Delfim Netto, Luiz Gonzaga Belluzzo e Yoshiaki Nakano. Encontro entre cujos dividendos incluiu-se certamente o reconhecimento, enfim, por Dilma do imperativo de aumento da Selic como resposta à ameaça inflacionária.
No outro pólo da cena política nacional, com a precariedade das respostas à pressão inflacionária e os vários outros problemas que se manifestam na economia neste início de ano (da queda da produção industrial aos prejuízos da Petrobras e da Eletrobras, passando pelo déficit da balança comercial), o candidato oposicionista Aécio Neves e o cada vez mais provável candidato dissidente Eduardo Campos ganham espaço para contraposição ao governo e à campanha da presidente e candidata Dilma Rousseff. Aécio, em entrevista ao Estadão, de sábado último, advertiu que “as bases da estabilidade do país estão ameaçadas”. E em pronunciamentos que passou a fazer em eventos promovidos por diretórios estaduais do PSDB ele reitera seu diagnóstico do “baixo nível gerencial do governo” : “a partidarização e o gigantismo da máquina federal”, que seriam agravados pela “precipitação da agenda eleitoral”. Por sua vez, o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, acentua ataques às ações políticas e administrativas do Planalto. Anteontem, num encontro promovido em São Paulo pela Força Sindical, ele afirmou que “a ausência de uma estratégia que privilegie um crescimento consistente da economia ameaça a geração de empregos no Brasil”.
Jarbas de Holanda é jornalista
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