Partido fecha questão a favor de regras que dificultam novos partidos
Fernanda Krakovics, Maria Lima, Junia Gama e Paulo Celso Pereira
BRASÍLIA - A direção nacional do PT enquadrou ontem a bancada do partido no Senado, levando-a a fechar questão a favor do projeto que restringe o tempo de TV e os repasses do Fundo Partidário para novas siglas. A decisão ocorreu um dia após o senador Jorge Viana (PT-AC), com o apoio do líder petista no Senado, Wellington Dias (PI), anunciar que apresentaria emenda para que a nova regra não valesse para as eleições de 2014. O Palácio do Planalto ficou atônito com a postura dos dois. A restrição a novos partidos é vista como uma forma de inviabilizar a candidatura presidencial da ex-senadora Marina Silva, que está viajando o país em busca de apoio para fundar sua legenda, a Rede Sustentabilidade.
Ontem, Marina desembarcou no Senado para lançar um movimento suprapartidário contra a medida, com o apoio de líderes e integrantes de PSB, PSDB, PDT, PSOL e até do PMDB. A tendência é que o Senado comece a debater o projeto esta semana, já que a Câmara concluiu ontem sua votação. Os deputados federais derrubaram as propostas que defendiam que as novas regras só vigorassem após as eleições de 2014. Em visita ao Senado, o vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer, defendeu a redução do número de partidos no país.
Wellington Dias negou que tenha recuado e disse que foi mal interpretado. Como justificativa pelo fechamento de questão, afirmou que o PT tem posição histórica a favor da fidelidade partidária. Antes da reunião da bancada, ele foi procurado pelo presidente do PT, Rui Falcão.
Já Viana, que não estava presente na reunião da bancada, foi atenuando sua posição ao longo do dia. No início da tarde, após o encontro dos petistas, ele se mostrou irritado:
- Tenho minhas posições pessoais, tenho coerência e história. Nem sempre o que se vota aqui é por ordem de alguém. Temos que mudar a legislação eleitoral para todos, e não com o jogo andando, e para alguns.
Horas depois, parecia mais conformado. Disse que conversaria com o partido para ver a possibilidade de ser liberado para apresentar a emenda:
- Parece que a bancada levou em conta a fidelidade partidária, então minha posição pesa menos. Vou ver se me liberam, nunca fui um rebelde.
Antes da decisão da bancada do PT, o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), defendeu, exaltado, punição aos colegas petistas:
- O partido tem que ter uma posição unificada, respeitar a posição da maioria. Tem que expulsar o Jorge Viana e trocar o líder.
Para ele, o fato de Viana ser amigo de Marina não é justificativa:
- Aquele estado (Acre) está parecendo uma ONG. A Dilma levou uma surra lá (em 2010) por causa desse charminho dele.
Caso o Senado não mude a proposta, Marina chegará em 2014 praticamente sem exposição na TV, pois deverá ter direito a 18 segundos por programa eleitoral, enquanto apenas o PT, sem contar os aliados, teria quatro minutos.
Ao lançar o movimento contra as novas regras, Marina intensificou os ataques à presidente Dilma Rousseff. Em reunião no gabinete do senador Pedro Simon (PMDB-RS), integrantes de PSB, PSDB, PDT e PSOL e o pré-candidato tucano Aécio Neves (MG) disseram que o movimento reagirá ao que chamaram de "pacote de abril moderno", em referência às medidas tomadas pela ditadura, em 1977, quando o Congresso foi fechado.
- Por que esse medo? Ela não precisa disso! Tem todos os partidos grandes ao seu lado, uma popularidade alta, 39 ministérios, o Bolsa Família, o PAC, o Renan, o Sarney. Por que o medo de 35 segundos de um partido recém-criado na TV? - disse Marina.
- Não é razoável que o governo estimule a criação de partidos para lhe apoiar e impeça a criação de outros que estão fora do seu guarda-chuva de cargos. Esse é um pacote de abril moderno que o governo e o PT tentam impor ao Brasil, mas vamos reagir - completou Aécio.
Fonte: O Globo
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