Enquanto segue o truco institucional entre o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional com lances cada vez mais ousados, os pré-candidatos a presidente da República vão silenciosamente fazendo seu jogo. Deslocam-se com desenvoltura no sentido de colocar mais essa crise no colo do PT, do PMDB e do governo Dilma Rousseff e organizar as rodadas seguintes.
Quanto ao primeiro passo, colocar a crise no colo do governo e do PT é fácil. O primeiro grito de guerra partiu dos petistas, na emenda do deputado Nazareno Fonteles (PI), um petista que procura limitar os poderes do Supremo. Depois, na visão de muitos, veio o PMDB atropelando as normais regimentais para votar tudo a toque de caixa, de forma a não dar tempo de tevê e fundo partidário aos novos partidos, incluindo a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, ex-senadora que obteve 18% das intenções de voto nas eleições de 2010.
Essas foram as sementes que germinaram toda a confusão e têm as digitais do PT, do PMDB, dos grandes partidos e do governo. Medidas extremas. Nunca é demais lembrar o que certa vez dizia o então deputado José Eduardo Cardozo, hoje ministro da Justiça. Ele era mestre em afirmar que a oposição não precisava se preocupar em criar arapucas para os petistas porque eles eram capazes de armá-las sozinhos. Pelo visto, a frase continua bem atual, uma vez que a crise se baseia em ofensivas que um mínimo de racionalidade e de bom senso teria ajudado a evitar.
Enquanto isso, na oposição...
Diante do barulho ensurdecedor desse carnaval de Congresso versus Supremo, o senador Aécio Neves, do PSDB, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, conversam pelo salão. No papel de pré-candidatos a presidente da República na disputa do ano que vem, trabalharam o conjunto de seus respectivos partidos para ajudar a Rede de Marina Silva e outras novas legendas na manutenção de tempo de tevê e fundo partidário. Agora, entrarão no mês de maio com um novo argumento para estarem juntos. A proposta de emenda constitucional, de Aécio Neves, que fixa o mandato de cinco anos para presidente da República, acabando com a reeleição.
A única forma de diluir essa ligação no momento seria o PT aceitar a emenda que extermina a reeleição. Mas dentro do partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva há quem diga que não dá para levantar essa bola para Aécio Neves cortar. O tema ainda não foi discutido pelas instâncias partidárias, mas a estratégia do PT, pelo menos em princípio, é denunciar a reeleição como uma invenção dos tucanos e do antigo PFL — o que não está errado, uma vez que a emenda geradora do direito de concorrer a dois mandatos foi apresentada pelo deputado Mendonça Filho, ainda no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso e aprovada no fim de 1997, ou seja, às vésperas do ano eleitoral, em tempo de ser aplicada. E, agora que o governo petista está em alta perante a população — e se considerando com chances de reeleger Dilma e (será?) até o sucessor —, vem a emenda para acabar com a festa do partido de Lula.
Se os petistas seguirem nessa batida e o PSB fechar com a emenda de Aécio, é mais um tijolinho para separar socialistas de petistas e aproximar Eduardo dos tucanos. E, assim, de grão em grão, as afinidades vão surgindo. E, reza a lenda, quando as afinidades aparecem na política, assim como na vida, as pessoas terminam caminhando juntas. Nem que seja só por um período. Eduardo e Aécio estão nessa fase. Lá na frente é outra história. Afinal, como já disse o governador pernambucano, é preciso ganhar 2013 para chegar em 2014. E, pelo visto, esse vencimento de 2013 do PSB passa longe do PT. Não por acaso, Dilma se embala na Copa. Mas é essa é outra história.
Fonte: Correio Braziliense
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