Alessandra Mello
O rolo compressor montado pelo Palácio do Planalto e pelo PT, com o auxílio do PMDB, para impedir que o futuro partido de Marina Silva, a Rede Sustentabilidade, tenha direito ao tempo de televisão e ao Fundo Partidário é baseado em cálculos eleitorais minuciosos. A cúpula petista avalia que Marina tem condições de levar a disputa para o segundo turno, mesmo com a natural desidratação do capital político herdado por ela em 2010.
Pelos cálculos governistas, Marina teria, hoje, entre 10 milhões e 12 milhões de votos assegurados na disputa eleitoral de 2014. Pouco mais da metade dos 20 milhões que conquistou há quase três anos. Os outros possíveis protagonistas da corrida presidencial, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), obteriam 30% dos votos válidos — sem Marina na disputa. Caso apenas Aécio e Campos estivessem na briga com Dilma, o cenário seria suficiente para a presidente se reeleger no primeiro turno. Com a entrada de Marina, no entanto, os pesos da balança eleitoral se modificam.
Em 2010, Dilma conseguiu uma vantagem folgada sobre o adversário José Serra (PSDB) no Nordeste, abrindo uma margem de vantagem de aproximadamente 11 milhões de votos. A entrada de Eduardo Campos no páreo dividiria pela metade esses votos na região onde o PT sempre teve desempenho avassalador em 2002, 2006 e 2010. Os 10 milhões de votos de Marina também drenariam parte do eleitorado petista e, somados à ainda intacta vantagem eleitoral de Aécio em Minas Gerais, forçaria um segundo turno entre Dilma e o candidato do PSDB.
Além disso, integrantes da base governista lembram que Dilma não tem o mesmo poder de persuasão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se a eleição estivesse mais acirrada do que o esperado, ela poderia se perder nas promessas e nos acordos firmados eleitoralmente, preocupam-se fontes ligadas ao Planalto. "O país lembra as dificuldades vividas no relacionamento político de Fernando Henrique e do próprio Lula no segundo mandato, a necessidade de fazer concessões perigosas para garantir a governabilidade", disse ao Correio uma liderança governista.
Antecipando uma disputa mais tensa e apertada que a calculada, legendas que normalmente gravitam em torno do poder poderiam aumentar o preço pelo apoio. Não à toa, partidos como PTB, PR, PP e PDT estão postergando ao máximo o anúncio de uma aliança formal com Dilma para as eleições do ano que vem, sob o argumento de que "é preciso preservar a independência e a autonomia nas coligações estaduais".
Reforma política
Parceiro fiel do Planalto na empreitada de sufocar a Rede, o PMDB defende-se afirmando que sempre levantou a bandeira de uma reforma política que vede o aumento dos partidos no país. "A Marina tinha tantos partidos para se candidatar à Presidência... Por que ela resolveu montar uma legenda só para concorrer ao Planalto?", indaga o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).
Questionado se a Rede não teria o mesmo direito do PSD, aliado do Planalto e que não teve maiores contratempos para se oficializar, Raupp defendeu o governo. "Ninguém imaginava que o Tribunal Superior Eleitoral daria ao PSD acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de televisão. Todos estão mais precavidos", justificou o peemedebista.
Críticas em Belo Horizonte
A ex-senadora Marina Silva (AC) esteve ontem em Belo Horizonte, um de seus redutos eleitorais, para colher assinaturas para seu novo partido, o Rede Sustentabilidade. Marina, que venceu a eleição na capital mineira no primeiro turno da disputa presidencial de 2010 com cerca de 126 mil votos a mais que a presidente Dilma Rousseff, aproveitou para criticar a tramitação no Congresso do projeto de lei que dificulta a criação de partidos. Para ela, a proposta é uma tentativa de inviabilizar sua candidatura a presidente em 2014. "As pessoas percebem que essa é uma lei de encomenda para nos inviabilizar. Essa atitude autoritária da base do governo, do PMDB e do partido do Kassab (Gilberto Kassab, presidente do PSD) é um atentado à nossa democracia. Até porque o Brasil sempre foi pluripartidário e é isso que está sendo quebrado", critica a ex-senadora.
Fonte: Correio Braziliense
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