Tendo recuperado cerca de 1/3 do baque (na avaliação do governo e como postulante da reeleição) sofrido nas manifestações de junho, a presidente Dilma Rousseff depende a partir de agora, para melhorar esses índices e garantir condições básicas de governabilidade na parte final do mandato, de dois fatores decisivos. Primeiro, uma reversão dos precários indicadores e perspectivas da economia. Segundo, de como evoluirá o relacionamento entre o Executivo e um Congresso que recuperou parte de sua autonomia e é liderado por um PMDB sem compromisso prévio quanto à sucessão no Palácio do Planalto.
Na esfera da economia, os problemas mais agudos são o crescimento do déficit da balança comercial e o mix de mais um Pibinho (que pode ficar abaixo dos 2%) com inflação em torno do teto da meta e os efeitos na redução do consumo e na queda do nível de emprego. A resposta da presidente (a concreta, não a midiática da “foto do dia” em palanques para anúncio de planos novos ou requentados) é a atração de investimentos privados, sobretudo externos, para concessões na área da infraestrutura. Atração que, dificultada pela demora na mudança dos critérios estatizantes adotados para os leilões correspondentes, o governo procura reforçar apelando agora para investidores chineses com visita esta semana a Pequim de delegação dirigida pelos ministros Gleisi Hoffmann e Fernando Pimentel.
No plano político-institucional, o ganho de autonomia pelo Legislativo – com as restrições impostas à edição e à apreciação de MPs e o “orçamento impositivo”, já aprovado na Câmara dos Deputados – passa a limitar ações do Executivo, inclusive por meio da rejeição de vetos, envolvendo negociações que põem em xeque a ampla hegemonia do PT no Ministério (exercida também por secretários-executivos em pastas com titulares de partidos aliados, e nas estatais). Negociações que separam questões legislativas, bem como cargos na máquina da União, de compromissos com o pleito presidencial. Transferidos explicitamente para 2014 e, de parte do PMDB, tendo em vista manter-se como maior partido no Congresso, em conflito com o PT, usando para isso palanques estaduais de candidatos próprios a governador ou alianças montadas para esse objetivo. Quanto à nova fase do mensalão, parece que o Palácio do Planalto, diante da perspectiva de confirmação das penas dos principais réus, tende a considerar conveniente uma rápida conclusão do processo, que reduza o impacto do tema nas disputas eleitorais do próximo ano.
Enquanto isso, no campo não governista dos presidenciáveis, destacam-se a tentativa de José Serra de contrapor-se a Aécio Neves como candidato do PSDB; a pressão de Marina Silva sobre o TSE para apressar o registro da Rede Sustentabilidade, a fim de que a nova legenda tenha tempo para ganhar competitividade eleitoral; e a retomada dos passos de Eduardo Campos para articular palanques e alianças estaduais em prol de sua candidatura (após pressões contrárias recebidas do ex-presidente Lula).
No polo assumidamente de oposição à proposta de prévias no PSDB feita por Serra e de pronto acolhida por Aécio, o primeiro adicionou em seguida a de afastamento do mineiro da presidência do partido. Ambas rechaçadas pela executiva nacional e por quase todos os diretórios estaduais, com o respaldo da grande referência dos tucanos, Fernando Henrique Cardoso, numa entrevista ao Valor, de anteontem, com o título “Acho difícil fazer prévias, a imensa maioria do PSDB quer Aécio, diz FHC”. A rigor, tenham mesmo o objetivo de disputa da indicação com Aécio, ou o de “encontrar discurso para sair do partido” (segundo avaliação de editorial da Folha de S. Paulo, de ontem) as propostas de Serra, se concretizadas, enredariam o PSDB numa desgastante luta in-terna. Na contramão do exercício do papel oposicionista de desencadear um diálogo com o conjunto do eleitorado com base em alternativas políticas, econômicas e sociais aos governos petistas. Diálogo de cuja urgência depende a superação de grande problema vivido hoje por Aécio: os baixos índices de conhecimento e aprovação que segue apresentando, inclusive no Sudeste, com exceção dos quase 50% que obtém em Minas.
Jarbas de Holanda é jornalista
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