Diplomatas, como militares, são carreiras de Estado, bem hierarquizadas, e não jogam tudo para o alto, como fez Eduardo Saboia. Filho de embaixador, aluno brilhante, profissional disciplinado, entre a consciência e o estrelato na carreira, ele optou pela consciência.
Saboia segue os passos de um outro diplomata que entrou para a história pela coragem pessoal e política de dizer "não": José Maurício Bustani se recusou a admitir a existência de armas químicas no Iraque e foi, por força dos EUA, covardemente destituído da direção da Opaq, um órgão da ONU.
Bustani foi entregue à própria sorte pelo Itamaraty do governo FHC, virou herói nacional e foi ovacionado pelo Congresso brasileiro. Agora, Saboia serviu de pretexto para a queda do chanceler e está sendo execrado pelo Itamaraty do governo Dilma, mas já está sendo tratado como herói pela opinião pública e, convenientemente, pela oposição, inclusive por Aécio e Campos.
A questão não é simples. Do ponto de vista formal, é estapafúrdio, até perigoso, um diplomata decidir da própria cabeça retirar um senador estrangeiro asilado numa embaixada brasileira, metê-lo num carro oficial, com motorista e seguranças do governo, e cruzar cordilheiras e fronteiras até o Brasil. Tudo sem o Itamaraty e o governo do país autorizarem, ao menos saberem.
Mas, na realidade, Saboia vinha, havia mais de 450 dias, sofrendo com 1) o isolamento e a depressão do senador asilado na embaixada; 2) as caneladas do governo Evo Morales no Brasil e no princípio do salvo-conduto; 3) a inércia da diplomacia brasileira. Deixaria Roger Pinto morrer ou enlouquecer?
O resultado da ação de Saboia poderia ser bom para todos, inclusive para o Brasil e a Bolívia, e bastaria um teatro daqui e de lá. "Tiramos o bode da sala", defende-se ele. Mas Morales continua batendo, e Dilma continua tão paciente com a Bolívia quanto durona internamente.
Fonte: Folha de S. Paulo
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