As entrevistas do prefeito petista de São Paulo e de seu antecessor do PSD, nas edições da Folha de domingo e de anteontem, respectivamente com as manchetes “Situação na prefeitura era de descalabro” e “Descalabro é gestão de Haddad”, encaminharam o choque entre os dois a um grau de exacerbação que tornou muito difícil, senão inviável, o restabelecimento de relações entre eles como parceiros da frente anti-Geraldo Alckmin que o ex-presidente Lula empenha-se em montar na disputa do governo paulista. Cuja conquista pelo PT foi avaliada por este como segundo grande objetivo político-eleitoral em 2014 (depois da manutenção do controle do Palácio do Planalto pelo partido). O conflito entre Haddad e Kassab foi desencadeado pelas prisões da chamada quadrilha de auditores fiscais da municipalidade paulistana e pelo tratamento do atual prefeito sobre a atuação dela no governo anterior e o seu desmonte só no atual.
Abertura da reportagem com a primeira dessas entrevistas: “Quase sempre avarento e professoral nos adjetivos de acusação, o prefeito Fernando Haddad subiu o tom contra a gestão de Gilberto Kassab, mesmo sem citar o seu nome. Ele classificou a situação que encontrou na prefeitura de São Paulo de ‘descalabro’. Havia uma degradação. Nichos instalados e empoeirados”. Título e trechos da entrevista/resposta: “Descalabro é o primeiro ano da gestão Haddad”. “Dizendo-se obrigado a pagar na mesma moeda, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) atacou seu sucessor, Fernando Haddad (PT) contra quem usou termos como má-fé, desonestidade e desrespeitoso. Kassab negou ter relação com o esquema de fraude no ISS. ‘Eu me retiro da vida pública se em algum momento alguém identificar qualquer vínculo entre essas afirmações e a realidade’, afirmou”. Mais à frente: ‘Neste primeiro ano de governo, (a prefeitura) não avançou nada. Ele se iludiu com o marketing de sua campanha de que soluções mágicas eram suficientes. Cadê o Arco do Futuro (projeto urbanístico de estimular o desenvolvimento em algumas regiões). Ele deixou de lado. Cadê os recursos em caixa que deixamos’. Perto do final da entrevista: ‘A desonestidade do prefeito é passar a impressão de que é o primeiro a combater a corrupção. Se ele é o primeiro cadê suas manifestações sobre o mensalão?’.
Peça importante da frente anti-Alckmin articulada por Lula, uma candidatura de Kassab a governador – com potencial de atração do eleitorado antipetista no interior e sobretudo na capital, evitando uma reeleição do tucano no 1º turno – está sendo precocemente fragilizada pela forte repercussão do escândalo da quadrilha do ISS. E, sendo mantida mesmo assim, mais do que atacar Alckmin, ela terá que defender-se do “descalabro ético” denunciado por Haddad. Isso poderá favorecer o outro candidato com função semelhante nessa frente – Paulo Skaf, presidente da Fiesp, pela legenda do PMDB. Acertado, também, para apoio ao lulista Alexandre Padilha num 2º turno.
Para Lula porém, agora, o mais preocupante do conflito Haddad/Kassab, acima da complicação para o projeto especificamente paulista do PT, são as implicações negativas que ele pode ter para a presença e o papel do PSD na campanha reeleitoral da presidente. O que foi bem evidenciado em reportagem do Estadão, de anteontem: “Dilma e Lula agem para acalmar Kassab”, com o seguinte lead: “Em uma operação planejada para cortar os danos políticos da investigação que atingiu Gilberto Kassab, o Palácio do Planalto e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviaram ontem emissários para acalmar o ex-prefeito de São Paulo. Depois da troca de acusações entre Kassab e o prefeito Haddad a ordem no governo e na cúpula petista é agir para administrar a crise e manter o silêncio sobre as acusações que envolvem o potencial aliado no escândalo da máfia dos fiscais”. E o escândalo paulistano do ISS teve ontem novos desdobramentos, negativos para a atual administração da prefeitura, com a divulgação de depoimentos comprometedores do secretário de Governo e braço direito do prefeito, o petista Antonio Donato, que teve de deixar o cargo.
Jarbas de Holanda é jornalista
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